terça-feira, agosto 03, 2004

Antiqs

Havia Uma Rosa
O botão esverdeado
O orvalho que reluz
Na manhã ensolarada
Bem matreira, na caldeira
O cheiro doce até o jardim
E o bebê Rosa a ninar.

Nasce a Rosa.

Lá na grama, a família
As crianças e os avós
Lá estava a Rosinha
Encolhida, ela, só.
Não sabia que ainda -
Dava até pra sentir dó -
Cortariam seus espinhos
Ficou lisa, ainda só.

Desabrocha a Rosa.

Primavera majestosa
Rosa linda a enfeitar
Como brilhava, toda prosa
A rainha mais famosa
Namorava o Beija-Flor
Que por falta de um amor
Com a Rosa foi morar.

Murcha a Rosa.

Sempre alegre, noite e dia
Sob o Sol a lhe afagar
Sentiu falta de Maria
Todo dia a lhe regar
Bate a luz do Astro D'Ouro
Com angústia, a minha Rosa
Tanto cava nesta terra
De calcário, os pés machucam
O vento bate
As folhas murcham

Fraca, a Rosa.

Hoje triste minha Rosa
Poucas pétalas, lamuriosa
Beija-Flor a abandonara
Pois seu beijo o espetava
Sem açúcar, se chorava
Era d'água que faltava
Sem raízes, fraquejava
Sem ninguém mais na sua casa
Rosa linda, murcha, rara
Ontem, viva. Hoje, nada.

Morre a Rosa.

(+Outubro/2000)

Safe Creative #0801150379486



Odiosa Visita
- Afinal, somos tão permissíveis um pro outro... - Ele.
- Sim, é verdade. - Ela.
- Boa noite.
- Boa noite.

Após desligar o telefone, virou o corpo pro lado e preocupou-se em dormir. A sonolência o atacou, e começou a sonhar com ela. Sim, era muito fácil ter sua companhia enquanto dormia. Após uns 30 minutos de sonho, se sentiu observado, e abriu os olhos. O quarto estava como quando fora dormir. O ar, no entanto, era de pavor. Pavor. Seu corpo estava congelado de medo, uma presença exalava sua fúria no local. Uma visita absolutamente aterradora chegara, e cobrava por sua decisão. Pelo menos era o que ele pensava. Nunca antes havia acontecido nada de tão fantasmagórico consigo, e agora estava ali, a vislumbrar sem poder reagir, durante uns 40 segundos, uma sombra que clamava por seu direito de atacá-lo. Mostrou-se, finalmente, a ele. Um longo e gutural grunhido dracônico soou, e seu corpo se retesou mais ainda... Estava em Pânico. Clamou por seu Deus, e observou a fúria crescer, enquanto o quarto tremia como num terremoto. Lembrou-se das palavras de um dos ensinamentos: em meu nome, fará maravilhas. E usou da autoridade de seu Mestre. Expulsou a presença no nome Dele. Mais do que instantaneamente, todo o horror cessou, e pôde novamente ouvir os sons dos que ainda estavam acordados. Nem resto daquela infeliz presença sobrara ali. Ele, aliviado, sabia agora no seu íntimo que despertara a ira de um ódio secular, que agora se voltava para ele e para os outros ao seu redor. Estava preparado, e pôs-se a orar, novamente. Ele a amava, e sempre teve muita fé. Isto seria o necessário para que tudo ficasse em paz. Percebeu que sua sensibilidade havia chegado a um nível que nunca desejou.


Safe Creative #0801150379462

Nenhum comentário: