terça-feira, janeiro 24, 2006

Poema Incompleto

A vanguardista arte que resiste
No coração daqueles que seguram o mundo
Os faz chorar ao pensar que o amor

O mundo é etéreo como o vapor
Da expiração, inspiração, suspira
E a vida é fumaça que se vai
Na cachaça

Mas talvez pra estes ainda haja,
Ao lado de alguém, é melhor que corram

Porque a cada último suspiro, se vai um conservador
A cada luz, em um novo sopro, os olhos,
Que vêem o mundo instável mergulhado na rede,
Aprendem e crescem

As pessoas, cada vez mais feridas
Caem na folia
Iludidas, fendidas, suadas, fedidas, imundas

Beijam todos aqueles que detestam
E tornam-se como eles
Dançando todo o inferno que repudiam

Tento esquecer que o humano excrementa
E o que é o excremento
Senão um monte de energia não aproveitada?
(Irrenovada, jogada, deixada, mal tratada)

Tenho pesar ao pensar,
Falar, comer, andar, calar,
Que os pobres podem ser o excremento social
Como tanto se costuma dizer

Temos mais excremento do que cidadãos
E afinal, é ou não é por falta de vontade?



Safe Creative #0803010456771

domingo, janeiro 08, 2006

Que Seja Infinito Enquanto Dure

Não é que hoje não haja amor eterno. É que ele nunca houve.

O jeito de amar está intimamente ligado ao meio de produção. Amar é em parte uma conveniência que acompanha a economia na nossa sociedade, assim como todas as formas de relacionamento entre pessoas.

Quantos "melhores amigos" você já teve nos vários ambientes onde viveu?

"Amor eterno" foi algo que as gerações passadas nos ensinaram, e que definitivamente funcionava pra época. Afinal, falar em eternidade é fácil pra quem vive estavelmente durante 60 anos, morre, e depois não diz pra ninguém se continua casado lá do outro lado. É bem tranqüilo pra gente perceber "eternidade" quando o casamento começou em algum ponto da vida dos nossos avós e existiu até suas mortes. É, é bem fácil confundir 40 anos de relacionamento com eternidade. E se eles se divorciassem 1 ano antes de morrerem? Vai dizer que o casamento não deu certo? Ou que não houve amor de verdade?

Por que as pessoas choraram tanto quando Elvis morreu, razoavelmente jovem? Ou Charlie Parker? Ou John Lennon? Ou John Kennedy? Naquela época, era esperado que se fizesse algo grandioso durante 30 anos ou mais. Havia uma sensação enorme da perda de tudo o que essa pessoa poderia ter feito. Amor é sempre algo muito grandioso que é relativamente fácil de ser vivido por qualquer um. É o sonho de "mudar o mundo" mais fácil de se realizar, com certeza. Retificando: "mais fácil" não, "menos difícil".

Hoje, algo grandioso deve ser feito em 1 ou 2 anos.

Quantos novos famosos ganham as telas todos os dias?

E por que o amor continua tendo que ser até a morte?

De maneira similar, um amor grandioso pode ser vivido em pouco tempo. Se temos tantas incertezas todos os dias, temos que arrumar um jeito de amar direito. Somos muito passivos com relação ao amor, e acho que essa não é a postura correta. É como uma gripe: você é alvo dela. Bom, se você se desproteger, vai estar muito mais suscetível à doença. Pensa só: você pode estar um pouco mais aberto ao amor, e deixá-lo acontecer. Não é garantido, mas aumenta suas chances. Com tão pouco tempo pra aproveitar, por que outorgar a uma única pessoa em sua vida inteira o direito de ser seu amor? E se essa pessoa te trai? E se ela se vai? E se ela morre? E se ela não te aceita? Como é que você fica? Não estou dizendo que você "escolhe o amor". Mas que você pode esquecer algum que não tá mais na área... Ah, com certeza sim!

Pra mim, é burrice atribuir um título para todo o sempre a uma única pessoa que é decadente como tudo mais nesse mundo.

O jeito de amar é sempre diferente, dependendo do casal. É como misturar diferentes tipos de leite com diferentes tipos de café, colocando açúcar a gosto e bebendo na temperatura que mais agrada. Sim, você também tem o seu tipo preferido de café, e eu não te culpo por isso. Mas dizer que 1 em 3 bilhões de tipos de café é com certeza o que mais te agrada? Será que dá pra comparar cada sabor com todos os outros? Alguns tipos de bebidas são inesquecíveis, e te proporcionam um prazer completamente diferente do outro. Igualzinho ao amor: podemos ter diferentes amores de verdade ao longo de nossas vidas. Cada um com sua marquinha especial, que é única.

Você pode até pensar que sou promíscuo. Mas ninguém pode dizer de mim que me embriago com vários "amores". Isso seria um vício muito feio; certamente uma subversão do significado disso tudo que estou dizendo, e estaria promovendo a banalização do termo. Promiscuidade é algo que tá por aí: todo mundo beija 30 bocas em qualquer micareta. É óbvio, não é disso que estou falando. Falo de ter aquele abraço onde você parece estar flutuando. Daquele carinho que parece conhecer cada detalhe do que você prefere. Acha mesmo que apenas uma pessoa no mundo te proporcionaria isso? Leva tempo, mas você encontraria seu amor em qualquer parte do mundo.

A não-eternidade do amor pode não ser a "verdade verdadeira", sabe? Pode apenas ser uma resposta que inventei pra me satisfazer. Mas pra mim, funciona. Bom... Na verdade, funciona mais ou menos.

Como todo mundo tem sua dose de hipocrisia, eu também acredito que um dia vá aparecer 'aquele' amor, e que dure mais de trinta anos. Ou seja: eternamente. Mas não digo que um amor que durou pouco tempo não tenha sido amor verdadeiro. Nem insisto em forçar a barra, dizendo que um amor que foi verdadeiro ainda o é, sabendo que pensar nele só me faz mal, e achar que esse mal é temporário. O desencanto pode fazer tudo vir abaixo, mas em algum momento da minha vida, foi o sentimento mais puro que tive. Não nego, e não pestanejo em dizer: foi amor de verdade.

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sexta-feira, janeiro 06, 2006

Cadê Meu Coração?

Se ocê pergunt'onde tá meu coração,
Eu vou lhe responder, sinhora:
Tá por aí, avoaaaando...

Ora de óis aberto,
Ora de zói fechado, sonhando.
Ora águia, ora coruja
Or'urubu, agourando

Ora de presa, feito rato no mato
Que as cobra cega vê pelo chêro
Ora de peixe no mar dos tubarão
Com toda palpitação, sangrando tanto
Que se parece chorá!

Mas agora, nada, só anoitando
Pra aninhá na cama, de sono
Coração caduco, mei'doido

Ora paixão, ora prazê
Ora, e o amor,
Daqueles que é pra sempre,
Como se lhe é de direito,
Ele tá procurando.



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