sexta-feira, agosto 27, 2004

Linhas de Tempo

Esse texto é velho...

Há milhares de anos, o homem sente medo da solidão. Há milhares de anos, a raça humana se sente só. Há milhares de anos, o homem gostaria de criar para si uma criatura que pudesse servi-lo. Há milhares de anos, o homem tem evoluído somente para criar essa raça que adotaria como simples servos. Há milhares de anos, o homem não notou que este foi seu maior engano. Imaginou, criou coisas maravilhosas das quais se servia para seu próprio bem. A pedra serviu de instrumento de caça, a roda, um instrumento de locomoção. Gradativamente, o homem aprendeu a interagir e modificar a natureza para servir a seu propósito: o prazer. Aprendeu com seus iguais a modificar tudo o que há em volta, adaptou tudo o que alcançou, de forma a moldar seu próprio mundo externo, tentando solucionar seu maior problema interior: a solidão. Voraz como o fogo, o homem até mesmo modificou seus iguais para que servissem a eles como escravos, e de nada adiantou. Devastou a Terra em fúria, e lá estava a solidão, como uma fera que o dilacerava por dentro.
Tentou por várias vezes tirar proveito desta fera, tentando compreendê-la. Passou o Grande Período da Solidão, onde vários homens se isolavam por vários anos em lugares ermos. E as crianças não mais nasciam. Os velhos surgidos daquela época reconheceram seus erros, e retornaram às cidades abandonadas. Lá restavam uns poucos adultos, e mesmo esses viviam em reclusão. Foi uma época em que tivemos medo de olhar nos olhos de outro ser humano. Arrependido, o homem jurou nunca mais abandonar seus pares, e então a humanidade viveu um tempo de compreensão e dedicação ao próximo. Talvez esse tivesse sido o momento mais feliz de toda a história humana. Infelizmente, a solidão, que agora parecia estar esquecida, apenas nos inspirou. Do alto de sua adoração pelo próximo, nossas criações tomaram formas mais próximas e independentes das formas humanas, e agora todo o conhecimento sobre nossa forma de pensar estava retratada em sua criação. Jamais se viu era de expressões mais belas e realistas. Se estivéssemos lá, diriam que somos "lembranças pálidas do pálido renascentismo".
E como todas as eras humanas tiveram um fim, também esta teve. Não havia motivo em criar algo próximo da humanidade, se assim como nós mesmos esse algo pudesse apenas desejar se servir de nós. Foi a época da Grande Exaustão, onde os inconformados se serviram com maior voracidade de todos os recursos da mãe Terra. Tinham medo de que a natureza, modificada e tornada à imagem e semelhança do ser humano, um dia quisesse se servir de nós como nos servíamos dela, então. De comum acordo, toda a humanidade embarcou numa jornada de exploração intensa de nossos recursos minerais, vegetais e animais. A temperatura subiu. Chuvas ácidas irromperam como castigo divino sobre as cidades. A água inundou cidades, tomando a terra de volta, diminuindo continentes, transformando montanhas em ilhas. Toda a civilização foi tomada pela corrosão. Com menor espaço onde pudesse sobreviver, as pessoas tinham que reduzir seu território de ocupação. Houve superpopulação. Houve muitas mortes. Agora, o homem que há algum tempo servia apenas a outros homens, preocupava-se novamente em permanecer vivo. Foi instituído o Espaço Virtual de Sobrevivência. Os sistemas de maior importância em nosso planeta deveriam ter uma réplica na Grande Rede de Informações. Depois de implantada, permitiu que várias pessoas vivessem sem sair de casas, e foram idealizadas as Câmaras de Sobrevivência, cidades imersas, onde o espaço era completamente racionado, e as pessoas viviam durante quase todo o tempo conectadas ao Espaço Virtual, em um mundo projetado em seus sentidos por máquinas.


As pessoas ultimamente têm me dito que tenho estado um pouco mais sério que o de costume. Estou muito apreensivo e vivendo este semestre com precisão cirúrgica na organização dos meus horários. Muita atenção é requerida. Injeções de adrenalina são mais freqüentes, causando até um pouco mais de estresse. Mesmo assim, não se preocupem. Estou muito bem. :)

Hoje é dia de formatura de uma amiga. Talvez eu perca duas preciosas aulas. Mas não posso deixar pra mais tarde a cerimônia.

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