quarta-feira, janeiro 28, 2009

Nasce a Acássia

No frescor que vem do alto
Sob o orvalho que reluz
Na manhã ensolarada
Matas virgens, braços d'água
Na doçura de um jasmim
Que dez mil vai semear

O tremor da depressão
Tal transformação conduz
Na transfigurada encosta
Indaiás assistem e choram
Longas eras até aqui
Tantas mais a se cumprir

Um tufão de passarada
Dos ipês se desviava
Ao surgir da ribanceira
Tanto bicho a se banhar

Há a noite e há o Sol
Tempestades e tormentas
A ninhada derradeira
Todas onças morrideiras
Seres prestes a sumir
Porque o tempo vai passar

No agouro de uma estrada
Os pequenos se matava
Tanta pele pelo chão
Infeliz do bom coati

Há a dor e há o mar
Há trovões a desabar
Há o mundo a desandar
Um fulgor por trás de tudo
Lá do cosmo a comandar
No milagre do existir
No quiçá do tal porvir

Nasce a acássia.



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terça-feira, janeiro 27, 2009

Para Todo Efeito

Aproximar-se da morte
É sentir-se, finalmente, vivo.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

O Estúdio Assusta

Visitar um estúdio profissional é intimidador. Inúmeros equipamentos, qualidade de som realmente absurda. Mas eu me acostumo. Deixa minha cabeça voltar pro lugar.

A gravação das duas primeiras músicas foram feitas no estúdio Copacabana, do Anderson Rocha. Por uma graça do destino e do gosto, a Manu resolveu começar o disco pelas duas músicas que dei a ela. Eu não interromperia o curso da ordem de gravação, pra mim essa escolha foi um belo presente! O Técnico foi o Márcio Lyra. Muito, muito bom. Já produziram audio pra Leila Pinheiro, Tony Garrido e muita gente do samba grava lá... Várias feras.

No Domingo estaremos com o Rodrigo Vidal pra mixar as duas primeiras faixas. Esse cara é um dos papas do audio no Brasil. Discos inteiros pra todo mundo da grande MPB. Conseguimos seu toque pessoal nas duas faixinhas, o que também serve pra circular a voz da Manu pelas cabeças da nossa música. O contato veio através de dois amigos da época do Cefet, que hoje tocam na surgente banda Playmobille: Lemmings (baixista) e o Sperduto (guitarra solo). Fazíamos parte da mesma confraria de amigos que tocavam violão no pátio (eles muito mais do que eu, que usualmente fazia os poemas). Imagine como o mundo dá voltas e o que foi a nossa formação musical dentro de uma escola técnica, rsrsrsr. Pais, tomem cuidado com o lugar onde matriculam seus filhos. Dois alunos de mecânica formados baixista e guitarrista, respectivamente. Um aluno de eletrotécnica formado poeta e compositor de música popular.

Estamos comprando o ingresso pra uma viagem muito interessante. Confrontando nossos receios com o resultado da realidade e tirando daí o que só pode ser sucesso.

Este é mais um dos meus momentos de turnover. O mundo não se mexe por nós. Nós temos que tentar um pouquinho que seja desviar alguns cursos de água pra nos saciarmos. Temos que mover o mundo. Parte das coisas que prometi, não fiz. Mas um pouco que faço pode significar muito no futuro. Tenho toda esta dificuldade de concentração, mas estou neste momento apontado pra uma única direção, graças a Deus.

Mesmo que não seja sucesso da maneira convencional, teremos um pequeno patrimônio em forma de canções. Patrimônios espirituais e culturais, e não poderemos nos condenar por não termos feito tudo o que estava à nossa disposição e alcance pra mudar o nosso 'real', trazendo um pouquinho de prazer ao 'real' de quem se ama também.

Já disseram inúmeras vezes à Manu que ela tem potencial e talento. Eu pensei numa coisa esses dias. A Manu não é uma promessa, como tantas cantoras da nova e magra safra de famosas. Manu é uma realidade desassistida da MPB, como algumas pessoas que conhecemos e outras que ainda não. Esses casos estão por aí, espalhados e quase (ou já) desesperançados.

As zebras são dominantes hoje. Sabe? Rebanhos de gente igual, com uma personalidade parca e magra são os representantes culturais. Todas com listrinhas pretas e brancas, exatamente iguais. Pálidos. É possível que seja a melhor representação de um povo como está o brasileiro, sem educação ou valores morais. Salvas as figuras das safras anteriores, que sobreviveram com seus méritos.

Dentro de uma catástrofe financeira mundial e um choque provocado especificamente na indústria fonográfica com o advento da mídia digital e das redes, um castelo de cartas desaba. As ondas das figuras pop se tornam menores, e na lavoura de novos talentos os lavradores tomam como amostras um grupo que, estatisticamente, tende a ser a média. É dar tempo ao tempo.

A mídia passa ao largo das aves mais coloridas, dos bichos que sabem voar. Talvez este seja apenas um devaneio Marxista ou Orwelliano, mas eu tenho a impressão de que muita história vai acontecer e mudar pra melhor. Eu sou um beija-flor. Uma ave. Pequenininha, que não leva mais do que uma gota em seu bico pra tentar aplacar o incêndio que pode levar a floresta abaixo. Mas sei fechar meus ouvidos ao que a difusão tenta promover, também conhecido por mediocridade.

É dar tempo ao tempo. Os novos pescadores hão de encontrar suas pérolas. Elas são descobertas da noite pro dia, depois de tanta gente achar que o status quo era a "verdade verdadeira" e predominante. E um monte de casas, que não era pra estar de pé, cai.

Depois de ter grande talento, reconhecimento, moral irretocável, amigos e recursos, torço pra que a Manu tenha sorte. Ou continuará pérola em uma ostra do mar, longe dos olhos de pescadores, joalheiros e reis. Mesmo que com lindo CD na mão. Mas assim é a passageira vida, e nós temos que lidar com essa possibilidade.

Não sei qual dos caminhos pode nos fazer entender melhor que tudo isso é uma ilusão. O que estou fazendo aqui é conduzindo-nos a uma bifurcação.

Agradecimentos especialíssimos à banda. Giló, percussionista e amigo que conhece Manu de muito tempo antes de eu conhecê-la, e que também acompanhou a Amelinha, a Alcione, a Joana. O Tuca Alves, apresentado a nós pelo Giló. É nosso maestro, de mão firme, mas sempre muito gentil, brincalhão e atento às necessidades musicais da estrela do grupo e do compositor "dono da gig" (eu, rsrsr). Rômulo Gomes, Camilo Mariano, Stanley Netto e Nina Pancevsky todos grandes figuras dos bastidores da grande música, trazidos pelo Tuca e que nos deram o melhor apoio com seu know-how da indústria e sua avaliação do trabalho. Márcio Lyra, Anderson Rocha: muito obrigado pelo carinho, pela atenção e pelos ouvidos.

É isso. Daqui a algumas horas a Manu canta, e o registro será eternizado.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Indaiá

Indaiá
Memórias fazem o cativeiro perdurar
Oxalá
Meus ancestrais vivessem pra me ver lutar
Ao luar
Quem partir de mim
Vai desabitar
As estrelas
De lá do céu brotar


Indaiá
Já não se entrega o cavalheiro se errar
Oxalá
Meus pais viessem pra me ver lutar
Afinal
Ao sofrer aqui
Vou desencarnar
Virar estrela
À noite o céu pintar

No tengo corazón
Yo vivo muy cerca de morir
Ai, ai, ai
Ai, ai, ai
Dolor del alma
El regreso está aquí

Indaiá
As mesmas coisas não te fazem melhorar
Oxalá
As minhas bodas se fizessem realizar
Mas amar
É morrer sem ir
No desencontrar
Sem apreço
Deixar-se abandonar



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segunda-feira, janeiro 12, 2009

Gaza

Isso aqui não é filme.

PUC-Rio


Amigos do Quinteto.

Mário, Brunno, eu, Diogo e Nelson. Da esquerda pra direita.

CEFET-RJ



Essa era a turma que voltava junto de trem lá no CEFET, no meu segundo grau. Uma hora e meia todo dia de viagem na ida, e depois na volta.

Da esquerda pra direita: Feio, não lembro, Clarissa, Ramones, não lembro, não sei, Noronha, eu e Fábio. O restante é passageiro.

Sobre os Sisos

Tive dois sisos supranuméricos inferiores, um de cada lado.

Ou seja, seis sisos.

A cirurgia dos dois primeiros foi feita sem problema, um em cada sessão. Eram os superiores. Nos dois inferiores direitos foram removidos também, em uma sessão, mas tive a sensibilidade da metade direita da minha língua afetada. Ela meio que "embolou" os sentidos, e olha que foi feita com um dentista bem experiente. Os dois inferiores esquerdos eu pensei em não tirar, mas não vejo mais como evitar, dado que estão bem grandinhos e um deles empurra a raiz do outro para fora do maxilar. Além disso, preciso utilizar aparelho (depois dessa, como não deveria?!?!) e só poderei fazê-lo se fizer esta cirurgia, que só pode ser feita por um buco-maxilo, porque a disposição da arcada ficou bem complicada depois que os sisos cresceram.

Surreal, eu sei. Considero-me feliz, mesmo assim ;-)

Criei coragem depois de quase dez anos da última cirurgia. Será bem mais sério, mas é necessária. Vamos ver se a coragem perdura até o momento da cirurgia ser feita ;(

domingo, janeiro 04, 2009

Mestre Jabuticaba e o Partido Alto de Jorge Ferreira

Fiz uma brincadeira com um samba improvisado pelo tio Jorge, padrinho da Manu, debutando como compositor por motivos de pressão maior. Estreando o gogó de ouro de Jabuticaba, "Botando Pá Quebrar", que é a minha imitação da voz do meu pai aliada a um sotaque alcoólico de puxador de samba. O nome do intérprete fictício é uma paródia em homenagem ao eterno Jamelão. Revelo-lhes a minha vertente secreta do samba de raiz, totalmente desafinada :P :P

O nome da música é Convite do Compadre. Daí eu dei uma fantasiada, e inventei o grupo fictício Quadra da Comu. Nada disso existe, claro... Ficou, no mínimo, intrigante, mas a música é um partido alto muito bem feito pelo Jorge.




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O Vero Amor Desfaz

Dilascerou meu peito em vão
Só de pensar eu sofro mais
Ai, essa dor na minha vida
O vero amor desfaz

Você chegou por maldade
Vestia toda a inocência
Ao desejar teu amor
Eu tive minha sentença

No mar revirado não vi
Farol que se aproximava de mim
Mas a vida não quis

É espinho que fere o destino
Aparto de mim este fel tão ruim




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sexta-feira, janeiro 02, 2009

Para o Novo Ano

Ano passado eu acabei um bocado com a minha integridade física. Vou recuperá-la este ano, porque ninguém fará isso por mim.