sexta-feira, março 07, 2008

Dezessete Bilhões de Anos

Naquele dia, sua casa estava cheia. Estrelas, astros, vias lácteas, todo mundo estava lá. O homem escuro, de barbas brancas, pesadas, das profundezas de seus dezessete bilhões de anos, se recusava a soprar as velinhas. Ele olhava em seu interior, e via na euforia dos pequeninos seres que dentro dele viviam um motivo pra comemorar: era seu aniversário.

Será que eles não cansavam? Ficavam a dar voltas em seu Estomacal Sistema Solar, contando uma parametrização de unidades de tempo totalmente harbitrárias. Yugas, anos, nanossegundos, bits, luas. Em cada momento era uma coisa. Eles não se cansavam.

Sentiu frio. Colocou seu casaco de matéria escura. As barbas estavam de molho há incontáveis giros do Sol. Incontáveis mesmo. Isso é coisa de um povo da Terra. Agora, sentia pena.

Havia muitas coisas inexplicáveis aos seres intrínsecos deste ser. E muitas coisas inexplicáveis a este ser sobre os seres intrínsecos. Por mais que fosse onipotente, não os controlava. Por mais que fosse onisciente, haviam segredos indecifráveis. Por mais que fosse onipresente, não era notado.

Entristecia-se. Seus remédios não funcionavam mais. Estava com dezessete bilhões de anos, e nada mais parecia resolver a tendência destes micróbios de se autodestruírem. Parecia muito com aquilo que eles próprios inventaram, que se chamava Câncer.

Cada criação boa correspondia a uma ruim. Viviam segundo as leis do equilíbrio, do Ying e do Yang, que descobriram, mas sobre à qual fechavam os olhos e fingiam nada saber.

"Estes serezinhos que vivem dentro de mim. São uns insanos. Ao taparem os ouvidos à minha voz, criam seu próprio circo de loucura, enxergando vários super-seres que podem governar suas vontades espirituais. Grande necessidade espiritual de merda, estas coisas todas que lhes aparecem não existem. Eles não sabem que estão em mim. Cavam-me buracos, de dentro pra fora. Irrompem em explosões. Desnutrem parte do meu corpo... Eu estou ficando obsoleto."

Olhando no espelho, vê um outro universo: o de sua imaginação.

"Eles foram todos feitos segundo minha vontade, à minha imagem e semelhança. E eu era tão bom, tão íntegro, tão perfeito. Eu era tudo o que eles precisavam. Eu era o centro de tudo. Eu era o mais poderoso. Eles eram tão parecidos comigo. Eu os fiz exatamente assim, como eu. Justo eu, que sou tão belo, tão majestoso, tão divino..."

E, piscando, afasta-se do espelho, abaixando lentamente seu olhar, como que resignado.

"Onde foi que eu errei?"


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2 comentários:

Ninha disse...

Rods! To participando duma brincadeira super 10 no blog. e escolhi vc pra tb participar! aposto q vc vai gostar...

mais informações em: http://docantinho.blogspot.com/

beijossss

Nina Carolina Guimarães disse...

Poxa, deu uma vontade abraçar esse velhinho...acho que vou fazer isso agora.