quinta-feira, agosto 18, 2005

Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades

Começou a Mostra PUC. Um evento que reúne várias empresas no campo da universidade, a fim de recolher currículos para vagas de estágio e trainee. Para quem ainda não começou no mercado, é uma ótima. Também há palestras e shows ao longo do evento.

E por falar em palestras, resolvi assistir a uma ontem, sobre liderança. Não me interessava o blábláblá sobre liderança, mas interessava muito saber mais sobre a empresa palestrante, uma das grandes no mercado de Capitais. O diretor operacional era a cara mostrada (acho que é o tal CEO que todo mundo fala).

O que aprendi de bom? Vamos às partes mais importantes.

O cara começou com uma lição sobre um jovem trainee de 21 anos que derrubou um gigante conquistando U$ 10 milhões para a empresa em menos de 1 ano, e que não se contentou com seu prêmio de apenas U$ 25 mil (apenas??) frente ao seu sucesso. A base do argumento do fatídico CEO era:

As pessoas são arrogantes e imediatistas. Deve-se construir uma carreira de longo prazo, sem cobrar uma confiança incabível. Deve-se pavimentar a estrada de sua vida.

Ok. Tomei nota, já que ele chegou lá, e eu não.

O primeiro furo foi logo aos 5 minutos:
600 milhões de pessoas conectadas à Internet. O mundo está online!

Mentira. Se ele soubesse um pouquinho mais de geografia e um pouquinho menos de sensasionalismo e retórica, pensaria que só a China tem quase o dobro de habitantes. Ele considera esse número um grande mercado. Eu digo: é pouco. Convivo com 6,5 bilhões de habitantes no mundo (thanks to Google) e ele me dizendo uma frase dessas. Palhaço.

Qual é a do capitalista? Tá a fim de conseguir mais gente pra quem possa vender? Ora, ora... Não há mais mercados consumidores a serem conquistados. A próxima onda do capitalismo é o desenvolvimento dos mercados emergentes. Desse ponto de vista, é de suma importância que se veja os outros bilhões de pessoas no mundo sem acesso a Internet. Milhões de pessoas que não têm nem o que comer, mas que se pudessem comprar seria uma baita força consumidora.

Onde estão os capitalistas que pensam? Vamos criar mercados, e não depredá-los, nem mesmo desprezar os mercados potenciais. Essa história se parece muito com a do desmatamento. O desenvolvimento sustentável passa por manter a qualidade de vida das pessoas ao redor do mundo. O que faz a economia local não é o dinheiro, mas sim a transação. O importante não é a reserva, mas o ato da compra. O interessante é que todas as pessoas possam comprar. Se todas as pessoas do mundo, do nada, passassem a poder consumir, acredito que entraríamos em um ciclo enorme de escassez. Se essas pessoas pudessem ser educadas a fim de aprenderem um ofício, elas próprias seriam consumidoras e produtoras. Novos mercados, mais desenvolvimento, melhor qualidade. Isso só pode ser desenvolvido aos poucos.

Coisas culturais da sociedade dominadora... "Ah, mas ele é do mercado de capitais, não está interessado no desenvolvimento de novos mercados". Pois se não está, deveria! Quer especular? Bota mais meio milhão de pessoas jogando na bolsa. Quero ver se o preço das ações não sobe. Escassez é escassez, não importa onde.

Mas o que interessa aos capitalistas malvadões é mesmo que as outras pessoas não tenham propriedades. Quem tem dinheiro não quer que o colega o tenha, porque será muito melhor se este tiver de obedecê-lo. Curioso isso, mas acho que faz sentido. Mandar faz bem pra alguns. E eles se privam de muitas coisas boas que a igualdade traz. Ser igual, por exemplo, afasta o medo da perda, o ciúme e a vaidade. E não tira minha individualidade.

600 milhões de pessoas conectadas à Internet. O mundo está online!
Ponto negativo pra frase do CEO de araque. Pra quem ainda não sabe matemática, vou reformular a frase:
600 milhões de pessoas conectadas à Internet. Menos de um décimo do mundo está online!
Espalhem essa boa nova! Ainda tem muita gente pra quem podemos vender computadores! A maioria tem só que conseguir juntar uma graninha.

Será que os EUA não têm vergonha dessa estatística? Cadê a marra de nação poderosa que traz benefícios à humanidade? Como diria D2 (que não aprecio tanto, confesso): Essa marra que tu tem, qual é?

Continuando, ele tenta ocupar os 10 últimos minutos da palestra dizendo que é fã de homem aranha. Engraçadinho, coloca as fotos lá e todo mundo... Todo mundo não, só quem estava no auditório. Umas 60 pessoas... Ah, você entendeu: todo mundo ri. MAAAS há uma lição a ser dita na história da picada radioativa.

Ele começa. Conta cada detalhe da história inicial de Peter Parker no primeiro filme do Homem Aranha que saiu nos cinemas. Alguns flashes:

Garoto franzino, que é picado por uma aranha radioativa e de repente ganha um poder nunca antes possuído por alguém (...) Inventa uma fantasia, vai a um ringue, se prende no teto de cabeça pra baixo - em sua nova perspectiva de mundo - e derruba lá o gigantão com a maior facilidade. (...) Na hora de pegar o prêmio, chega no escritório do capitalista malvado e recebe uma quantia mínima. O homem lá ri dele e o manda embora com aquele trocado (...) De dentro do elevador, ele vê o assaltante do homem saindo do escritório com todo o dinheiro arrecadado. Ele era o homem aranha, e podia pegar o bandido, que passou na frente dele. Mas se negou a fazê-lo. Mais tarde, o assaltante mata o seu tio, e vem a grande lição: grandes poderes trazem grandes responsabilidades (...) Ele não ganhou o suficiente pelo que fez, mas não deveria ter retribuído na mesma moeda."

Fiquei me perguntando... Será que o Homem-Aranha era um jovem trainee de 21 anos que derrubou um gigante de U$10 milhões no Banco Pactual e recebeu só U$25 mil de bônus?
Que papelão. O cara começa a palestra com uma historinha e um argumento pomposo, e termina desmentindo-a. Como a vida é figurativa, não é mesmo? Não enxergamos evidências embaixo do nosso próprio nariz.

No Pactual, esse CEO era o capitalista. Na história do Homem-Aranha, ele torce pro herói.

Ou ele realmente concorda com o Peter Parker - e no fundo deu razão ao trainee que queria um bônus maior -, ou simplesmente torce pelo herói por uma mera convenção social, de que os heróis devem ser acreditados. Eu não ficaria feliz em ser liderado por alguém assim. A palestra foi um fracasso, do início ao fim.

5 comentários:

Rodrigo Santiago disse...

Se eu estiver errado, por favor, corrijam-me. ;)

Anônimo disse...

Xi ... apesar de ser um protótipo muito mal formado de economista, dessa vez discordo de quase tudo o que vc disse (a exceção dos comentários sobre o homem-aranha e um ou outro ponto) Mas esse papo é looooooongo, pessoalmente é melhor. Saudades !!!

Bjs !

Rodrigo Santiago disse...

Não sou protótipo de economista, sou um analista de sistemas me aventurando a pensar sobre outras coisas ;D

Economista é quem trabalha com economia.

Anônimo disse...

...e pq não?

Anônimo disse...

aprovo o que li assim como aprovei qd ouvir

esse meu amigo eh um gênio!!!

beijosss