quinta-feira, janeiro 22, 2009

O Estúdio Assusta

Visitar um estúdio profissional é intimidador. Inúmeros equipamentos, qualidade de som realmente absurda. Mas eu me acostumo. Deixa minha cabeça voltar pro lugar.

A gravação das duas primeiras músicas foram feitas no estúdio Copacabana, do Anderson Rocha. Por uma graça do destino e do gosto, a Manu resolveu começar o disco pelas duas músicas que dei a ela. Eu não interromperia o curso da ordem de gravação, pra mim essa escolha foi um belo presente! O Técnico foi o Márcio Lyra. Muito, muito bom. Já produziram audio pra Leila Pinheiro, Tony Garrido e muita gente do samba grava lá... Várias feras.

No Domingo estaremos com o Rodrigo Vidal pra mixar as duas primeiras faixas. Esse cara é um dos papas do audio no Brasil. Discos inteiros pra todo mundo da grande MPB. Conseguimos seu toque pessoal nas duas faixinhas, o que também serve pra circular a voz da Manu pelas cabeças da nossa música. O contato veio através de dois amigos da época do Cefet, que hoje tocam na surgente banda Playmobille: Lemmings (baixista) e o Sperduto (guitarra solo). Fazíamos parte da mesma confraria de amigos que tocavam violão no pátio (eles muito mais do que eu, que usualmente fazia os poemas). Imagine como o mundo dá voltas e o que foi a nossa formação musical dentro de uma escola técnica, rsrsrsr. Pais, tomem cuidado com o lugar onde matriculam seus filhos. Dois alunos de mecânica formados baixista e guitarrista, respectivamente. Um aluno de eletrotécnica formado poeta e compositor de música popular.

Estamos comprando o ingresso pra uma viagem muito interessante. Confrontando nossos receios com o resultado da realidade e tirando daí o que só pode ser sucesso.

Este é mais um dos meus momentos de turnover. O mundo não se mexe por nós. Nós temos que tentar um pouquinho que seja desviar alguns cursos de água pra nos saciarmos. Temos que mover o mundo. Parte das coisas que prometi, não fiz. Mas um pouco que faço pode significar muito no futuro. Tenho toda esta dificuldade de concentração, mas estou neste momento apontado pra uma única direção, graças a Deus.

Mesmo que não seja sucesso da maneira convencional, teremos um pequeno patrimônio em forma de canções. Patrimônios espirituais e culturais, e não poderemos nos condenar por não termos feito tudo o que estava à nossa disposição e alcance pra mudar o nosso 'real', trazendo um pouquinho de prazer ao 'real' de quem se ama também.

Já disseram inúmeras vezes à Manu que ela tem potencial e talento. Eu pensei numa coisa esses dias. A Manu não é uma promessa, como tantas cantoras da nova e magra safra de famosas. Manu é uma realidade desassistida da MPB, como algumas pessoas que conhecemos e outras que ainda não. Esses casos estão por aí, espalhados e quase (ou já) desesperançados.

As zebras são dominantes hoje. Sabe? Rebanhos de gente igual, com uma personalidade parca e magra são os representantes culturais. Todas com listrinhas pretas e brancas, exatamente iguais. Pálidos. É possível que seja a melhor representação de um povo como está o brasileiro, sem educação ou valores morais. Salvas as figuras das safras anteriores, que sobreviveram com seus méritos.

Dentro de uma catástrofe financeira mundial e um choque provocado especificamente na indústria fonográfica com o advento da mídia digital e das redes, um castelo de cartas desaba. As ondas das figuras pop se tornam menores, e na lavoura de novos talentos os lavradores tomam como amostras um grupo que, estatisticamente, tende a ser a média. É dar tempo ao tempo.

A mídia passa ao largo das aves mais coloridas, dos bichos que sabem voar. Talvez este seja apenas um devaneio Marxista ou Orwelliano, mas eu tenho a impressão de que muita história vai acontecer e mudar pra melhor. Eu sou um beija-flor. Uma ave. Pequenininha, que não leva mais do que uma gota em seu bico pra tentar aplacar o incêndio que pode levar a floresta abaixo. Mas sei fechar meus ouvidos ao que a difusão tenta promover, também conhecido por mediocridade.

É dar tempo ao tempo. Os novos pescadores hão de encontrar suas pérolas. Elas são descobertas da noite pro dia, depois de tanta gente achar que o status quo era a "verdade verdadeira" e predominante. E um monte de casas, que não era pra estar de pé, cai.

Depois de ter grande talento, reconhecimento, moral irretocável, amigos e recursos, torço pra que a Manu tenha sorte. Ou continuará pérola em uma ostra do mar, longe dos olhos de pescadores, joalheiros e reis. Mesmo que com lindo CD na mão. Mas assim é a passageira vida, e nós temos que lidar com essa possibilidade.

Não sei qual dos caminhos pode nos fazer entender melhor que tudo isso é uma ilusão. O que estou fazendo aqui é conduzindo-nos a uma bifurcação.

Agradecimentos especialíssimos à banda. Giló, percussionista e amigo que conhece Manu de muito tempo antes de eu conhecê-la, e que também acompanhou a Amelinha, a Alcione, a Joana. O Tuca Alves, apresentado a nós pelo Giló. É nosso maestro, de mão firme, mas sempre muito gentil, brincalhão e atento às necessidades musicais da estrela do grupo e do compositor "dono da gig" (eu, rsrsr). Rômulo Gomes, Camilo Mariano, Stanley Netto e Nina Pancevsky todos grandes figuras dos bastidores da grande música, trazidos pelo Tuca e que nos deram o melhor apoio com seu know-how da indústria e sua avaliação do trabalho. Márcio Lyra, Anderson Rocha: muito obrigado pelo carinho, pela atenção e pelos ouvidos.

É isso. Daqui a algumas horas a Manu canta, e o registro será eternizado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Há os vetores, Rodrigo. E eles se incumbirão de tornar a arte brotada dessas sessões em studio de inquestionavel qualidade, o canto da menininha -v. Andrea- Manu, numa realidade real (sic) bem mais apreciada em volume estatístico. Pérolas devem ser dadas aos poucos, citando Wisnik, mas sempre. Sorte é uma metáfora que desafia aqueles que se acham na hora certa, ao tempo certo e no lugar certo. Em boa companhia, se possivel. Up,up and away !!! deo