terça-feira, julho 04, 2006

Elasmossauro

Ele abriu um terminal e lá estavam as três lacunas que deveriam ser preenchidas: usuário, senha e nome do banco de dados.

"Não me lembro do que tenho que preencher".

Com um pouco de esforço, trouxe à lembrança o nome do usuário: "zeus". A senha era fácil. Projetos internos sempre recebiam como senha o mesmo usuário, seguido de dois zeros: "zeus00". Mas sabia que estes dados estavam inválidos. Com um pouco mais de esforço, lembrou-se de que os dados haviam mudado. A segunda combinação de usuário e senha só haviam sido utilizados uma única vez.

"Ih, caramba... Vou ter que me lembrar do que eram. Não anotei em lugar nenhum."

Fechou os olhos. Com uma busca em seu consciente, encontrou o caminho. Entre paus, pedras, castelos, canetas e tudo o mais que seu cérebro pudesse associar de informações inúteis. Escavou do fundo de seu baú mental os usuários e senhas mais recentes: "zeusproj". Era a mesma palavra para usuário e senha.

"Ok. Mas agora falta o principal. O nome do banco de dados."

Esta informação não havia mudado. Ele resolveu testar seus novos poderes. Fechou os olhos, a fim de enxergar melhor dentro de si. "Elasmossauro", "endívias gratinadas", "tecnologia". Eram termos totalmente fora de cogitação. Mas a palavra estava lá. Começou a lembrar de sua colega de projeto. Ela sabia muito bem sobre este banco de dados, já que era sua mantenedora. Das duas ou três vezes que o acessara, perguntou-lhe rapidamente o nome, sem lhe dar muita atenção.

"Isso vai ser bastante difícil".

Ele focou sua consciência. Debruçou a cabeça sobre suas mãos. Os cotovelos estavam apoiados em cima da mesa. Reajustou o ritmo respiratório, a fim de bombear mais sangue para seu cérebro.

"Eu sei que a palavra está por aqui".

"Acidente", "gestação", "ponto de impacto", "terremoto"... Nada que encontrava tinha qualquer relação óbvia com objeto procurado em seu bagunçado quarto de lembranças. Aos poucos, sentiu que as veias de sua testa estavam inchando. Mas não devia prestar atenção nestes pequenos pontos de dispersão. Devia perceber seu interior. Aumentou o ritmo respiratório, a fim de melhorar a oxigenação. Lembrou-se que outras pessoas pronunciavam esta mesma palavra com freqüência, para designar um dos conceitos do projeto.

"Quase lá, quase lá. Elasmossauro, elasmossauro..."

Em um rompante, abriu os olhos e olhou o google, buscando por palavras similares. Sabia que, a essa altura, se encontrasse a palavra escrita em algum lugar, reconheceria. Mas ela não estava em texto algum. Minutos depois, voltou, e demorou algum tempo antes de chegar ao mesmo estágio no qual havia abandonado sua busca mental.

"Ora, ora... Se alguém me disser o nome do banco, é claro que eu vou dizer que já sabia. Ele vai ter que sair daqui."

Em mais alguns instantes, iniciou os exercícios de contrações, ou Bandhas. Em breve, a energia concentrada subiria para sua cabeça. Quando sentiu a maior clareza em seus pensamentos, teve a nítida sensação: era questão de tempo até que lembrasse a palavra.

"Pronto. Daqui a pouco eu vou lembrar a bendita palavra."

Voltou a olhar as coisas à sua volta. A sensação de executar essas façanhas era sempre a de visitar um mundo paralelo, que só existia dentro de si. Enquanto clicava e escrevia coisas em sua área de trabalho, sorriu sozinho e percebeu claramente, como uma garrafa tampada que chega à superfície do mar de águas turvas, a mensagem que buscou como afinco.

"Sismografia".

Ao preencher os dados das lacunas em branco, viu-se apreensivo. Clicou no botão "OK", e após alguns instantes o terminal emitia a mensagem:

> Connected.

Feliz da vida, chamou um dos seus colegas de trabalho para comentar o fato. Antes de mencionar toda a história, disse que havia esquecido o nome do banco de dados. Seu colega prontamente respondeu:

"Todos os projetos usam o banco de dados sismografia."

Agradeceu polidamente, voltou completamente sem graça à sua mesa e resolveu não contar coisa alguma a ninguém.

4 comentários:

Nina Carolina Guimarães disse...

heheheh
show!

p.s. escutei e curti o Boom Boom Satellites, e aproveito pra trocar info: já ouvir Basement Jaxx ? Duca.

bjs

Nina Carolina Guimarães disse...

ops errei *ouviu

Anônimo disse...

E as endívias, ficaram boas?

Abraço!

Rodrigo Bezerra disse...

permita-me confessar que não entendi patavinas.

abçs do smithers