quarta-feira, abril 28, 2004

C&A

8:40 da manhã
- Bom dia. Vim pagar a fatura do meu cartão.
- Bom dia senhor. - A infeliz já começou errado - O cartão, por favor.
- Claro! - Abro um sorriso, e em seguida a carteira, a contragosto - Aqui está.
- Fatura mínima de doze reais e vinte e oito centavos, e máxima de quarenta e dois reais e trinta e um centavos.
- Vou pagar os quarenta e poucos. - Bah, me livro logo da dívida.
- Ok.
Bateu em algumas teclas. Podia ter sido um chimpanzé em seu lugar.
- Senhor, você se importa se eu arredondar para quarenta e dois reais e trinta e cinco centavos?
Inflação instantânea. Contragolpe necessário.
- Senhorita, você se importa se fosse arredondado para quarenta e dois reais e trinta centavos?
Agora, eu abria um sorriso sarcástico.
- Er... Bom... Não posso, senhor. São ordens do sistema.
Ok. Eu entendo essa história de roubar centavos.
- Bom, eu também lamento. Meu sistema é como o do estabelecimento. Também proíbe perdas por arredondamento.
Silêncio. Dois samurais se entreolham. Um rapaz chega na fila. Apenas três pessoas em todo o andar. Uma carnificina poderia acontecer a qualquer momento. Coloco a mão no bolso. E...
- Bom, aqui está. Cinqüenta Reais e uma moeda de um centavo. Assim, não precisamos brigar. - Mesmo que eu quisesse esmagar a cabeça da cobradora contra o balcão, a desgraçada apenas obedecia ordens, como um cão adestrado. E um centavo nunca pagaria um crime hediondo.
- Sim... Obrigado. - Me olhou com ar de reprovação, como alguém que olha um miserável.
Agora, apenas o barulho da máquina contabilizando. Notas, e algumas moedas de troco. Carteira abre, carteira fecha. Viro as costas e caminho. Com o andar da fila, ouço atrás de mim:
- Bom dia, senhor. São trinta e nove reais e oitenta e oito centavos. Se importa se eu arredondar para trinta e nove reais e noventa centavos?
- Claro que não. O que são três centavos, não é mesmo? - Mais um ignorante no mundo.
A idiota ri alto, de propósito.

E na saída, camisas, sapatos, relógios, cintos... Relógios? Ôpa, deixa eu dar uma olhada...
8:58
9:59
9:00
Ops... Quase fui pego pelo apêlo de marketing. Meu senso de compromisso me despertou do transe.

E na saída, esbarro com a Gisele. Em tamanho real.

*O nome da moeda foi escrito com letras minúsculas propositalmente.


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