Depois de ver a vergonhosa tacada, meteu a mão na mesa e recolheu as bolas de bilhar. Mediante o protesto dos jogadores que estavam na mesa, Esbravejou:
- Tacada?! Tacada?! Quero ver quem joga valendo aqui! - E percebia-se seu estado alcoólico, talvez misturado com algum outro entorpecente ilícito. - Sabe quem sou eu? Já ouviram falar dos Mutantes?
Rearrumou as bolas sobre a mesa, e apostou vinte Reais com um amigo. Venceu: 78 a 7 em uma partida desigual. Era grandioso em seus gestos, como quem sonha grandiosamente. Prepotente? Talvez. Restava-me aguardar. Conversava comigo, enquanto jogava, e explicava o quanto tinha feito como maestro pela música. Compusera para O Terço e Os Mutantes. Sua namorada-acessora traduzia lucidamente tudo o que eu não conseguia entender naquela figura um tanto complexa para o mundo em geral.
(...)
Mal-educadamente pedindo licença aos gritos, não aguardou a saída do violonista do pequeno palco, fazendo pouco caso de sua música. Em resposta ao grosso gesto, as pessoas restantes fizeram pouco caso da pessoa do maestro. Janelas fechadas, vassouras correndo enquanto ele testava o som, e discutia com um dos músicos, dizendo o quanto seu teclado era melhor do que aquele que experimentava. Encontrou finalmente um efeito que o agradava.
Causou um certo furor e antipatia dos empregados locais, até que começou a tocar.
Uma harmonia setentista e grandiosíssima, que eu acompanhava de longe, ao passo que ele acenava pra mim, demonstrando sua arte. Prestava atenção em cada gesto, e me espantava por vários motivos. Os outros músicos pararam, espantados. As pessoas restantes passavam por ele e o ignoravam, recostado naquele canto de parede vermelha com uma luz bem amarelada sobre si. Quando terminou, perguntou se eu havia gostado da música que criara naquele instante, que pra minha surpresa disse ter sido em minha homenagem.
Eu assisti espantado aquela pérola sendo vomitada por um porco: Saile, o Compositor.
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