Uma senhora
Largada no canto
De língua pra fora
Sem gota de pranto
De lágrimas secas
"Senhora, acorda!"
Que fez a incerteza!
É triste a história
Da mãe de dois filhos
Aos trapos de pano
Caída no canto
Felizes os ricos
Estes não viram
Que a senhora comia
Como quem nunca comeu
Guardou pras crianças
Dois nacos
Da carne que mordia
Que faço eu?
Choraria e molharia o mundo?
Ou daria um prato
Àquela que
No canto, caída de fome
Buscava emprego
Tão longe do lar?
E as crianças?
E as suas roupas?
Eu sou como você
Que consegue me ler:
Responsável pelo mundo.
Procurando o que fazer
Sentindo-me imundo
Pela pureza de meu lar
Pela família
Pelo amor que recebo
Pela força que nego
Àqueles de quem tomo
Ao deixar de comer
Ou pecando
Ao transbordar minha gula
Mas não condeno a Sua vontade
De me fazer nascer em boa casa
De me ensinar os passos da felicidade
Ora, não seria eu injusto
De duvidar de Seu julgamento
Ao me dar algo de bom?
Então, que me cobrem
Pela injustiça que cometo
Ao não me dar ao mundo
Em trabalhos de bom grado
Pela vida de terceiros
Que exijam tudo o que é meu
E levem essas consciências
Que incomodam nosso
Cômodo e leviano
Superficial bem-estar
A história narrada foi verdadeira. Havia uma mulher, mãe de dois filhos, vestida com farrapos, desmaiada de fome no meio da rua pois não comia há dois dias (e nem as crianças). Minha mãe e irmã deram a assistência que puderam. Todos os que ouvem a história ficam chocados. E ninguém a ajudou, mesmo assim.
Será o progresso?
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