quarta-feira, abril 12, 2006

A Natureza da Informação É Ser Livre - Parte I

Qual é a única coisa que podemos multiplicar infinitamente em nosso cotidiano, como se fôssemos Deus? Informação. Ó, guerra e pobreza não valem! ;-)

O que é abstração? É um conceito inexistente no mundo físico, que tem por objetivo explicar, generalizar, e por fim, tornar compreensível o universo em que vivemos. Nossos conhecimentos são todos abstrações que nos permitem entender o mundo. Não, nós não enxergamos as verdades absolutas, mas chegamos a um limite de compreensão prática que nos conforta. O que sabemos é verdade - verdade que pode ser mudada posteriormente.

Verdade não-absoluta (essa eu tomei emprestado da aula de Filosofia). Se uma pessoa discorda, ela busca uma resposta melhor. Às vezes, essa pessoa acaba inventando coisa nova. Às vezes, morre tentando. Às vezes, se convence de que a resposta anterior era a melhor. Às vezes, desiste, e vive no meio da frustração, sabendo, intuitivamente, que existe uma maneira melhor de se explicar essa verdade que não convence, que não considerava algumas variáveis, mas que mesmo assim, é verdade.

De agora em diante, quando eu disse a palavra "criar", considere "estruturar", "materializar" ou "comunicar" uma abstração.

A abstração materializada é um objeto. Uma vez que você tente materializar um objeto, encontra certa dificuldade ao lidar com as limitações do mundo físico. Este é o plano da vontade de Deus, enquanto a sua cabeça é o plano da sua vontade, do livre-arbítrio: o que acontece aí dentro é problema seu. Uma pequena cortesia do nosso Senhor, que respeita nossa individualidade. ;-)

Me parece que o plano material oferece resistência à criação. Por que isso acontece? A criatura (nosso espaço), ao ser atingida por uma força transformadora (nossa tentativa de criar), tenta a todo custo manter seu estado original (lei natural da conservação de energia). A energia necessária para criar um objeto (transformar nosso meio) deve ser suficiente para sobrepujar o estado de equilíbrio em que ele se encontra. E assim, fabricamos de tudo: lápis, papel, borracha, computadores e aviões, idiomas, pinturas, músicas - transformando nosso meio. Isso significa que "vencemos a vontade de Deus?" não, mas sim que "era da vontade dEle que você criasse o que conseguiu criar; você estava em sintonia com seus planos".

Podemos dizer que idéias criadoras se influenciam mutuamente. Todo ato de criação necessariamente carrega traços de erro, advindo da interferência das outras atividades criadoras. Estes erros podem ou não ser suficientes para invalidar toda a obra. Nesse contexto, tanto "materializar" quanto "comunicar" uma abstração pode sofrer da influência de incontáveis atividades criadoras - tanto de Deus quanto de nossos colegas. O único espaço onde estamos livres pra criar o que quisermos é nossa mente, nos aproximando do tal "mundo das idéias" de Platão. Nossa matéria prima, nesse caso, são duas coisas: nossa experiência, que são as criações das quais nos alimentamos previamente, e que geraram abstrações em nossas mentes, e o instinto que nos leva à evolução.

Criar nos aproxima cada vez mais do mundo perfeito, do Bem. Essa é a minha idéia de "à imagem e semelhança de Deus". Ele é O Criador, e nós somos criaturas e criadores em menor escala. Você talvez tenha lido algo desse tipo, que eu tenha escrito anteriormente. Esse espaço mental, onde podemos imaginar todas as coisas com perfeição e acurácia, é nosso playground de massinha infinita. Ao materializar idéias, estamos entrando em choque com o mundo que não foi criado por nós. Há várias forças em conflito: a dos indivíduos e a de Deus. Se você inventar algo em sintonia com o que Deus quis, isso sai direitinho. Do contrário, cumpádi, pode tirar o cavalinho da chuva, porque vai dar tudo errado. Da mesma forma, não adianta nada ter um bom projeto de lei se ele é embargado nas instâncias superiores do poder legislativo.

Se exercemos nossa atividade criadora com muita intensidade, é bem mais provável que exerçamos influência sobre a criação de nossos colegas. Do contrário, seremos produto do meio em que vivemos, escolhendo o que devemos ou não absorver. Mesmo nisso, há um pouco de criação: ao concordar, absorver e praticar uma determinada idéia, você deposita um pouco da sua energia naquela criação. Se torna co-criador. Ao censurar, você impõe resistência a uma tentativa de criação.

A maneira através da qual conseguimos comunicar nossas abstrações é a linguagem. Tem muita gente boa dizendo que, sem linguagem, não conseguimos desenvolver o raciocínio. Me parece razoável. Li em algum lugar que isso foi provado cientificamente. Legal. Completando: é através da linguagem que desenvolvemos e comunicamos nossas abstrações. Isso traz uma questão legal: como então surgiu a linguagem, como a conhecemos hoje? Português, Inglês, Francês, Alemão, Mandarim... Como tudo teve início, se a própria linguagem é criada sobre estruturas racionais? Tentando explicar muito brevemente, admito que no início havia uma linguagem primitiva inerente a nós (presente do Papai do Céu), que nos permitiu desenvolver abstrações que aprimoraram essa linguagem, que permitiu desenvolver abstrações mais complexas que tornaram nossa linguagem mais complexa ainda, e assim por diante. Essa linguagem original - primitiva e intuitiva - era a semente da criação em nossos corações. E hoje nossa capacidade de comunicação cresceu como uma árvore. Lindo isso né? :-)

Chegando ao ponto: ao comunicar, estamos alimentando com energia criativa nossos colegas. Comunicar uma abstração não consome recursos: teoricamente você poderia ensinar matemática básica pra todos os seres humanos, sem ter que poluir o ar, ou acabar com a água potável, partindo do princípio que você possa levar sua mensagem até seus interlocutores - 6 bilhões de cabeças, só nesse planeta, hoje. Na verdade, consome sim: você tem que respirar, comer, etc etc. Mas esse é o pequeno preço que se paga, ao transmitir suas idéias. Penso que ensinar e multiplicar conhecimento é tão fácil porque a lucidez humana é uma meta bem próxima do âmago da vontade de Deus.

Bom, agora pensem novamente sobre o que o Guilherme falou: "a Microsoft está dando licenças de uso de seus programas de graça". Vamos discutir com mais calma essa questão, no próximo post.

2 comentários:

Nina Carolina Guimarães disse...

:/
Aguardo próximo post, entonces.
Eu conversei sobre isso com alguns amigos semana passada, rendeu algo bem perto do teu post. Muy legal. Sintonia é isso aê.

bjsss

Mauro disse...

Concordo, só não uso com tanta seriedade essa palavra com D. Também fico pensando como surgem as línguas, dá pra fazer um post inteiro sobre isso, vamos ver quem faz primeiro.