sexta-feira, abril 07, 2006

Ágata II

Há muito tempo descrevi os talentos de uma mulher fenomenal, que não era de nada. Segue aqui a continuação de um fiasco de gente:

Ágata chegara desta vez no Planetário da Gávea, precisamente às 22:00 de uma Quinta-Feira. Estupenda, com seu vestidinho preto bem curto, de alcinhas, botas pretas e gigantes, sua pele muito branca e seu sorriso clássico. Desta vez, ela encarnava uma gótica, que vinha serelepe, acompanhada de sua outra amiga gótica. É óbvio que me chamou atenção o fato de que a única peça de roupa que tinha alguma cor era a meia três-quartos, que alternava listras horizontais amarelas e pretas. Estava praticamente travestida de abelha.

De repente, pensei: "onde será que ela esconde o mel?". Exercitem, pensem bem e respondam.

Pra completar a produção, havia uma tatuagenzinha aqui, outra ali, e mais uma enorme acolá, na metade das costas, que eu não sabia o que era, apesar do tamanho.

Quando disse "serelepe", eu estava falando sério: as duas vinham andando como duas Alices, dando pulinhos e levantando os braços, como se fossem muito, muito leves. Achei estranho, até porque me parecia que Ágata estava ligeiramente acima do peso. Mas continuava linda. Bom, esse pessoal de preto é assim mesmo.

Ela se sentou na mesa oposta à minha, exatamente de frente pra mim. Não preciso dizer que logo olhei pro óbvio: suas pernas desprotegidas, por baixo da mesa. Com um monte de amigos na minha mesa, e um visual desses, estava me sentindo muito bem. E ainda tinha um show por assistir.

Cigarros, cigarros, cigarros... É impressionante como um monte de gente que fuma costuma espantar a fumaça depois de soprar o que tragou. Ora, não é bom fumar? Pra que espantar a névoa??

Caipirinha, caipirinha, caipirinha... Isso seria o de menos, se não exagerasse.

Nos primeiros estágios da bebedeira, falava alto, e brincava lucidamente. Gargalhava de forma natural e parecia bem disposta. Chegou o primeiro atacante: um neguinho de tranças curtinhas. Cumprimentou e foi logo roubando-lhe um beijo. Ela desviou, fez que não gostou, ergueu um sinal da cruz com os dedos na direção do rapaz, que seguia pra comprimentar outra pessoa da mesa. Ficou vários minutos com cara de desgosto, e eu já sabia que o óbvio mais tarde chegaria.

Quem desdenha quer comprar...

Cruzada de perna pra lá, cruzada de perna pra cá, e começaram os sinais da falta de decoro e elegância: olhos pesados e aquela piscadinha lenta. Tudo bem, isso ainda é tranqüilo. Conversando com um rapaz baixote de cabelos meio sarará, começou a sorrir demais e deu um abraço no maluco, que tascou-lhe um beijo. Não foi um beijão não, foi só um beijo, mas retribuído. Seria o primeiro da noite. De língua, que não me pareceu muito bem dado, mas que foi bonito. Valeu o primeiro round. O cara beijou e foi embora. Assim, como se fosse comum se despedir com um colante.

"Pô, depois vou lá me despedir também." - Pensei, no ato.

Passados vários minutos, Ágata já mostrava pra que tinha vindo. Em curtas palavras: arreganhada na mesa, na mão do palhaço. E quem volta? O neguinho. Sentou na mesa, fez umas brincadeiras, puxou a branquela e slurp! Segundo da noite! Ela era linda, e podia ter qualquer um que desejasse mesmo... Por que não dois? Bom, desse ela tinha se desfeito anteriormente. Mas o nego mandou bem. Num bom brasilês: bagunçou a mulher de verde e amarelo! Bom, na verdade, o nego bagunçou a mulher de preto-e-amarelo. Começou devagar, com aquele jeito de quem sabe o que tá fazendo. Mas depois de dez minutos... Sinceramente, acho que as pessoas pagam pra ver shows assim. E ali, pra mim, foi de graça.

Agora, o que eu fazia, enquanto aquele espetáculo rolava bem na minha frente? Conversávamos na mesa sobre Nietzsche, O Guia do Mochileiro das Galáxias, Platão, Matéria Escura, Sistemas Auto-Organizados e sobre a brilhante conclusão de um amigo: o analista de sistemas alimenta dentro de si uma grande esquizofrenia. Eu dei razão - a pouca que havia me restado.

É bem verdade que o show estava bom. Mas tava tão óbvio ali, a dois metros de distância, que eu, de repente, me desliguei deles. E era bom que me desligasse, porque nem só de olhar vive o homem. Voltei toda a atenção pra minha mesa, e não vi mais o que aconteceu com os dois.

Ao partir, fui cumprimentar algumas pessoas da mesa onde ela estava - eram conhecidos meus. Quando me voltei pra ela, vi um pudim de gente, que não conseguia falar direito com os outros: um misto de entorpecente com sono e tesão, agarrada ao negão.

Não há muita conclusão ou especulação na história. Há só o fato. Ignoro o porquê, e também não me interessa. Eu desdenho, mas como ela também não vale muito, não vou nem pechinchar.

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12 comentários:

Saulo Vallory disse...

hauhauhauha e eu, abstraído da situação pensando em física!!! q absurdo!!! vc precisa evidenciar essas coisas, discretamente é claro, pros companheiros de mesa! hauhauhauauha

Nina Carolina Guimarães disse...

...eita.
Engraçado como na noite - notívaga e mega observadora que sou - vejo tantos desses casos, e nunca tive a pachorra de escrever um.
Acho mais fascinante inventar um ! huhuhuhhuu que cousa.
Adorei o tom da narrativa. Bem Woody, mesmo.
bjsssssss

Anônimo disse...

Layla >> a parte das pernas foi feio hein!! Fika olhando pra buzanfa de mulher galinha neeeehh!! Q coisa feeeeeeia rodriguinho =p
E espero q tenha soh olhado os outros se entupirem de caipirinha, vc nao ;) de onde essa serelepe demoniaca apareceu?hauhauhaa..era linda mas nao valia nada neh..era um show de have metal?uhauahuaha..doido vc.
bjuss.. Layla.

Guilherme Martins da Costa disse...

duas coisas que são bem interessantes(na verdade a 1a é beeem mais q foda):

II - Entrevista onde DANNY ELFMAN explica como compõe no computador, mesmo sem entender de teoria
http://www.apple.com/pro/music/elfman/

III - saiu no Globo de hoje
"O IMPÉRIO-CONTRA ATACA
Na luta contra pirataria, Microsoft estuda oferecer softwares de graça"

abraços!!!

Ninha disse...

Ótimo texto. Adorei começo meio e fim. Concordo com Nina, bem vc esse txeto e para falar a verdade eu tava sentindo falta de coisa desse tipo por aqui. Acho q vc tava devendo desde aquela que você ia bucar alguma coisa no corredor e ficou puto pq não passou niguém...vc tava pelado, slá, n lembro direitinho, mas lembro q li mais de uma vez. Gostei.

bjo, mocinho!

Anônimo disse...

Gui, essa parada do império é realmente muito boa. A microsoft não está oferecendo software de graça por causa da pirataria. Está oferecendo software de graça "porque ele o é". :P

Beijão, Ninhaaaaaaaa!!

Nina Carolina Guimarães disse...

"A microsoft não está oferecendo software de graça por causa da pirataria. Está oferecendo software de graça "porque ele o é". :P"
Fale mais sobre isso, um post ! Quero comentar. :P

Anônimo disse...

Isso! Isso! Isso! Isso!
(à la Chaves)

Anônimo disse...

Para alguém que vale pouco ela ganhou muito! Sua atenção uma boa parte da noite e até um espaço bem grandinho no seu post!
Apoderando-me do que disseste... quem desdenha quer comprar...
;)

Anônimo disse...

aff!!ninguem merece seguir ditados populares..a ultima coisa que eu pensaria de vc era isso "quem desdenha quer comprar"..eu te conheço,ateh parece q tu ia querer um lixo desses. nao concordei nem um pouco com essa tal de letra P. e eu nao acho que ela ganhou a sua atençao,quem nao ia ficar olhando pra uma cena dessas???
E sobre a parte dela ter ganhado um grande espaço no seu post, só se for muito devagar (vamos ser delicados) para nao entender q vc esta retratando as mulheres lindas que nao se auto valorizam.

Bjo primo.

Anônimo disse...

ahh..e vou ressaltar um detalhe, q a primeira foto do titulo do seu blog q vc esta de frente,vc tah a cara do nosso avô bem mais novo..tah legal =]
daki a poko tow na sua casa..feliz pascoa =]
bjuss!!

Rodrigo Santiago disse...

Ouxe, P... Ela ganhou uma ostracizada gigante. Se vier de graça, sabe como é, né... Mas, sinceramente, eu não sou adepto de mulheres descartáveis.

É, a Layla entendeu bem o recado ;)