Eleonor teve dois filhos que ama, mas que contra sua vontade não têm metade da normalidade das crianças dos vizinhos. E nem um centésimo disso.
O primeiro deles, Medhros, tem a boca completamente nua; e no lugar dos cabelos possui longos e finos dentes, apontados para cima, como se houvesse uma enorme boca perenamente aberta, cuja circunferência segue a coroa de sua cabeça. Essas pinçudas presas permanecem em um lento movimento, como o de uma respiração, dando ao garoto mais velho uma aparência simplesmente arrepiante. Apesar de seus 15 anos, seu falar mais parece o de um velho que colocou uma esponja bem macia na boca. Tem um estômago poderoso, uma traquéia elástica, um esôfago que mais parece uma cobra de tão controlado, sendo capaz de engolir as coisas mais duvidosas.
Em certa feita, enquanto fazia graça para que sua mãe não insistisse que comesse brócolis, Medhros subiu em uma mangueira e comeu folha por folha. Passou dez horas catando cada um dos brincos verdes da árvore, deixando os galhos e os frutos intactos. Ao ver seu filho preso na árvore, com a cintura da largura de um fusca sem pneus, Eleonor decidiu que nunca mais pediria que comesse, porque comia bem demais quando queria.
A mangueira, com medo de sofrer um novo assalto do garoto, nunca mais deu uma folhinha. Nem um único e pequenino brotinho verde lhe saiu da ponta do galho mais fino da parte mais alta da árvore. Estava apavorada. Seus frutos ressecaram, não era mais capaz de se sustentar. Secou e se tornou uma árvore assustadora (mais assustada do que assustadora, na verdade).
Uma outra vez, durante uma briga com um de seus vizinhos, Nestor, Medhros arremessou-se de cabeça contra o rapazinho. Ele recebeu tantas dentadas na região pélvica que nunca mais pensaria em sexualidade na sua vida. Medhros arrancou as bolinhas do garotinho com muita acuidade, guardando-as nos bolsos para mais tarde montar um bate-bolinhas, envoltando-as com resina e pendurando ambas nas pontas de uma cordinha. Prendeu um anel de ferro na metade do comprimento da fina corda, e então punha-se a segurar o anel de ferro, balançando as bolinhas-de-garoto-de-resina uma contra a outra. Toda vez que brincava com o objeto, Nestorzinho sofria dores terríveis, tais que não conseguia levantar-se de onde estivesse, e nem mesmo deixar sua posição fetal característica, na qual passava a maior parte do tempo, vide seu trauma anterior.
O segundo filho de Eleonor eu não ouso descrever, e acho melhor parar a história por aqui, antes que ele descubra que estou pensando nele.
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