É fácil de explicar.
O sonho do Zé da padaria é poder atender todos os consumidores com qualquer item que precise. A localização geográfica em si, o ponto onde as pessoas passam para comprar algo é apenas um embuste para a oportunidade do vendedor.
A localização do imóvel comercial não é o negócio. Mas conveniência da localização é o fator chave para que a tal oportunidade de venda aconteça, com a presença do consumidor. Por que tantas padarias e botecos funcionam em frente a um ponto de ônibus? Infelizmente, a padaria não tem todos os itens do mundo, senão seria de interesse de qualquer pessoa entrar lá para comprar algo. Além disso, é limitado o número de pessoas interessadas em entrar em padarias. Pior ainda é a Lei da Impenetrabilidade da Matéria: dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Como acomodar todos os itens e todas as pessoas do mundo nas finitíssimas prateleiras e corredores de uma padaria?
Simples assim: o McDonalds compra 10 imóveis em um lugar desabitado, e instala uma única loja. As pessoas começam a freqüentar aquela loja. O McDonalds vê os outros imóveis valorizarem pelo aumento de circulação de pessoas. Daí, aluga todas as outras 9 lojas por um valor abusivamente alto. Os donos dos negócios instalados nas lojas, digamos, de cachorro quente e móveis de escritório, suam a camisa pra pagar o aluguel e tirar seu lucro. O McDonalds está comendo os lucros dos cachorros-quentes e dos móveis de escritório, vendendo-os indiretamente. Para quaisquer outros negócios que venham a se instalar naquela zona de 9 lojas, o McDonalds estará lucrando diretamente com um outro negócio que não é diretamente o dele. Ele pode vender qualquer coisa, mas não tudo ao mesmo tempo (varia de acordo com o tipo de loja instalado ao redor do McDonalds). Ele pode ter qualquer tipo de freqüentador, mas não todos ao mesmo tempo (idem para os tipos de loja que acabam surgindo por ali).
O Google FAZ isso. Vende tudo, pra qualquer tipo de pessoa, ao mesmo tempo. Virtualmente, ele inventa um site de utilidade pública. Mas ao invés de vender o serviço (como o Gmail, vários outros serviços de email são assinados e cobram uma taxa periódica), ele o fornece DE GRAÇA. E-mail com 6 gigabites de espaço (dá pra guardar a narrativa da minha vida iteira lá em formato de texto) é de interesse de qualquer médio internauta.
Com o serviço prestado, qualquer local virtual do Google (o site de busca, ou o Gmail, por exemplo) é bastante conveniente. Ele tem milhões de freqüentadores que verificam aquela telinha a cada 10 minutos, umas 8 horas por dia, sei lá.
Dado que o local é abusivamente conveniente, falta apenas o produto. E o que o Google vende? Resposta: o produto dos outros. Qualquer produto.
O Google subverteu a lógica tradicional das lojas. É como se pessoas do mundo inteiro freqüentassem a "lojinha Google" porque lá estão dando chocolate de graça, 24 horas por dia, todos os dias da semana. Daí, os agentes do Google ficam ouvindo as conversas de todos os milhões de freqüentadores. Ele tem um vendedor pra cada pessoa que entra nela. Esse vendedor fala a língua da pessoa, entende o assunto, e logo em seguida oferece um produto, intrometendo-se.
Imagine a cena abaixo:
Henrique entra na lojinha do Google e encontra Mateus, seu amigo de infância. Um terceiro rapaz, empregado da loja, de nome Ricardo, que tem cabelos grandes, usa óculos e uma camisa do Iron Maiden - o vendedor nada perfeito - chega perto deles e ouve atentamente o assunto:
- Fala, meu compadre! - Henrique.
- Fala, Bro! - Mateus.
- E aí, foi bem de viagem?
- Pô, do Centro pra Santa Cruz é chão.
De repente, o Ricardo, se intrometendo:
- Ahn... Com licença. Você gostaria de viajar? Tenho aqui um pacote inesquecível para você e sua família.
- E sua irmã? - Henrique.
- Ah, está ótima, chegou mortinha de cansaço - Mateus.
- Que tal um relaxante muscular pra vocês? - Ricardo.
- Olha, semana que vem vamos ao show do Paralamas, tá a fim? - Henrique
- Excelente! Vambora! - Mateus
- Olha, tenho ingressos para o show do Paralamas a dez Reais. - Ricardo.
- Ôpa, Ricardo. Como é que é o esquema? - Mateus.
- Toma aqui esse endereço de Internet. É lá. - Ricardo.
- Pô, demorou! Maior adianto, aê... - Mateus.
Mateus sai da lojinha Google, onde fica seu amigo Henrique1, aparentemente falando com as paredes, e Ricardo por perto, sempre a oferecer as coisas mais esdrúxulas. Dirige-se à outra lojinha da Ticketronics, onde compra de William um ingresso a dez Reais para o show do Paralamas:
- Ô, meu velho, tá aqui a tua grana - Mateus.
- Beleza, bro, tá aqui teu ingresso - William.
Com a saída de Mateus, William se vira para Tatiane, sua colega de trabalho:
- Ô Tatiane, leva aqui um Real lá pro Ricardo. Manda ele oferecer pra mais cem pessoas os ingressos pros Paralamas a dez Reais.
4 comentários:
E isso está em absolutamente tudo deles. Semana passada, tive que gritar "PARE!" pra Karen, antes que ela clicasse num daqueles adsenses do Gmail. Dizia "Quer reencontrar seus amigos de escola?", relacionado à um e-mail sobre High School Musical.
Isso pq ela sente falta dos amiguinhos do outro colégio. Felizmente consegui os telefones deles essa semana.
Tem noção disso? Até seu emocional é ferramenta deles nesse jogo.
Bjs
Caramba... Será que o Google ganha dinheiro com os clicks de centenas de milhões de criancinhas??
Que coisa mais sombria... Nem a Microsoft faria isso...
Pode ser. rsrsrs
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