sábado, maio 28, 2005

Notas de Maio

Havia água

No barco que via
Entre navios que voavam
Feito aviões que navegavam
Pairava tudo no vento
Que levou a vasta visão
De tudo que vivia.


Safe Creative #0801220392698




São as notas de Maio fechando o período...

Quando você arruma gavetas, percebe que não tem dado a devida atenção a muita coisa realmente importante.

quinta-feira, maio 26, 2005

Aquela da Livraria

Quando se começa um conto, você sabe que a história tem que ter uma moral. Por quê? Ora, é um pedacinho de texto que não tem a menor chance de ser lido se não for pra entregar algumas pérolas. Pelo menos uma.

E para esse conto eu não vou sequer inventar personagens. Foi comigo mesmo, enquanto passava em frente à livraria Argumento. Os livros que me viam gritaram por mim, da vitrine, ansiando por alguém que os folheassem. Como sempre, fitei as capas, varrendo-as com os olhos pra saber se algum tema me interessava. Olhos pra lá, olhos pra cá, e esvoaçou por trás dos livros uma mecha de fios bem finos e pretos. Cabelos femininos, num típico "momento de serem ajeitados".

Pronto, os livros já se eram. De quem era? Uma dama, como pude perceber, com aquele contraste bem peculiar e interessante: pele branquinha e cabelos bem pretos. Uma diva, vestida com uma saia cinza um pouco abaixo do joelho, e sapatos de boneca pretos, com meias brancas que cobriam as canelas. Vestia uma blusa bem comportada rosa-clara, e tinha os óculos de hastes pretas.

Será que é a "meia um-quarto"? Não sei, mas em um quarto eu teria mais que prazer em desnudar aquelas pernas e beijar os pés daquela princesa-anos-sessenta. Balancei a cabeça, porque já era a hora de voltar à realidade. Pensei: "ok, agora eu esqueço isso e vou para casa".

Você acha que eu ia perder a chance de ver o rostinho daquele anjo? - Entrando na loja, passei direto por ela, e notei que conversava animadamente com um homem. Talvez fosse o namorado. Estava sentada no bar, bebendo um refrigerante e comendo alguma coisinha qualquer. Como todo macho se sente o superior da espécie, logo pensei: "o que ela faz acompanhada desse aí? Que cara de babaca!".

Em uma fração de segundos, me dei conta que todo homem tem cara de babaca, especialmente quando está na companhia de uma linda mulher. Não há status, intelecto, beleza, firmeza, jovialidade, músculos, pose ou terno que faça um homem se ajeitar ao lado de da mulher que ama. Torna-se um babaca, e ponto. PS: as mulheres que são no máximo feias, mas que nunca têm cara de babaca, vão dominar o mundo.

Recolhi com um olhar para baixo a cara que me pertencia naquele momento (ela esteve no chão por um breve instante), e passei pelo casal. Fui ver os livros. Fui ver os discos. Marquei umas próximas compras e vi algumas coisas que podia procurar na rede - É mais fácil do que procurar material raro em lojas. - Depois de uns 15 minutos, eu já havia quase esquecido daquela garota com vestido estranho da entrada. Porque os livros estavam tão interessantes... Com várias intelectualóides gatinhas pesquisando então, nem se fala. Já falei o quanto gosto de garotas com óculos? Acho um charme.

Eu estava na parte de ter que voltar pra ver o rosto daquela que me fez entrar na livraria. Vamos lá. Me viro e vejo à distância a bela dona na porta de entrada. Fiz esse rodeio todo porque não queria dar pinta. Mas acho que essas coisas são sempre óbvias comigo - eu não sei mentir. Devo ter armado a MINHA cara de babaca e seguido em direção à porta. Vagarosamente, caminho sem naturalidade alguma, olhando por cima do ombro do outro que a acompanhava, e... Como diria Vinícius: "que me perdoem as feias, mas a beleza é fundamental".

Conclusão: será que aquela morena que olhava o CD do Coltrane tá sempre por ali? Isso é tão incomum hoje em dia...

Safe Creative #0801220392681




Tou baixando umas ondas de clássico pra experimentar mais estilos. Peguei: Stravinsky, Schoenberg, Wagner, Stockhausen e ainda há na fila: Mahler, Boulez e Debussy. Todos estes são mais contemporâneos. Os Bach, Beethoven e Mozart são bons também, mas já são mais vovôs da galera que mencionei antes, e quero conhecer os compositores de hoje. Retocando: de hoje, não... Mas que sejam de, no máximo, 120 anos atrás.

segunda-feira, maio 23, 2005

Unity Village

Perdi todo o conteúdo de um post que estava fazendo. Vai então a frase:

Mulher: quando teima em ser doida, nem outra igual entende.

Safe Creative #0801220392674


PS: parabéns ao Jon Postel, o maior herói dos últimos 10 anos.

PS2: O título do post é uma música de Pat Metheny.

PS3: Tou pensando em comprar um, mas só quando inventarem um jeito de ele virar PC.

segunda-feira, maio 16, 2005

Acerca da Individualidade

P, eu discordo de você, quando disse que o que importa é termos identidade apenas para nós mesmos. Identidade é ser distinto. Distinção sem coletividade acho que não dá: não há diferença sem comparação. Num universo unitário, para que serve o atributo identidade? Nada.

Só importa ter identidade dentro do espaço social. Sim, eu sei quem sou eu, e não me importo com o que as pessoas dizem de mim. Mas me importa ter a identidade sim.

"Fale o que quiser, ou não fale nada. Mas saiba que eu existo."

A aparência externa de um conjunto qualquer definitivamente depende da identidade. Como se percebe o lençol de areia numa praia? É o somatório dos aspectos distintos dos elementos. Se os grãos não tivessem distinção, ainda que de parcela infinitesimal, como seria a aparência da areia? Isso não seria prova mais clara de que a identidade importa para a sociedade dos grãos?

Não faça pouco caso das praias. =)

Quando disse que é importante ser reconhecido, quero dizer que dentro do sistema eu preciso ser distingüido. Do contrário, na verdade não estou participando ou enriquecendo o grupo com minhas características. Se não participar, se não interferir, quem observar de fora vai perder algo. Mesmo que infinitesimal.

Não, eu não estou dizendo que quero que me vejam mais que outros. Estou dizendo que preciso ser reconhecido localmente, para que as qualidades possam também caracterizar o grupo. É muito reconfortante saber que você marcou algo com informações suas. É bom saber que você se eternizou, de alguma forma. Num instante do espaço-tempo.

Safe Creative #0801220392650



E para finalizar, quero deixar aqui um presente, que mostra um pouco do que penso com relação às pessoas que identifico como meus amigos =)

O Laço Desata
Como o papel fino
Que rasga fácil e decepciona
Como se o tamanho
Fosse insuficiente pra apertar.

O que aperta é o peito
Que denuncia o mundo que passa
Todos queridos, odiados e suspeitos

Efemeridade, agora já é tarde
Só tu não passará

Já fazia tempo que não te via
Tu, um dos que chamo
"Meu melhor amigo"
Como vai, garoto?
Como vai, meu bem?

Tanta gente pra gostar
Tanta vida, tanta coisa pra fazer
Tanta vida, tanta coisa pra curtir

Sempre pra frente
Não olho pro lado, que perco
Que não devo, não posso
Já nem consigo

Mas gosto de te ver aqui comigo
Um na onda do outro
Enquanto a maré
Não nos força a despedida

O laço desata
Mas reata no casual modo de viver
Jeito globalizado, desigual, indiferente
A vida é virada ao avesso
Que é não viver a vida

E pra não te magoar, meu amigo
Não quero penetrar tua alma
Mas saiba que te amo
Do jeito que dá pra amar

Nesse mundo sem tempo
Onde a moda é móvel, é celular
Prenda o laço nas lembranças

Finja que não foi muito tempo
Foi só um instante
Que correu pelo espaço que nos afastou


Safe Creative #0801220392667

quinta-feira, maio 12, 2005

Das Coisas Que Se Ama

Se eu pudesse por um dia
Esse amor essa alegria
Eu te juro te daria
Se eu pudesse esse amor todo dia


Essa música do Tom acaba de invadir meus pensamentos.

Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro teu jeito De flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor



Bonito isso, né? Me lembra uma do Dominguinhos, que também curto muito:

Tou com saudade de tu, meu desejo
Tou com saudade do cheiro do mel
Do teu olhar carinhoso
Teu abraço gostoso
De passear no teu céu


São duas canções repletas de melancolia, mas de perspectivas diferentes. Um sentimento que me é muito familiar. Muito mesmo.

Consegui um disco do Chet chamado Let's Get Lost. Uma raridade.

Teu cheiro me dá prazer
Quando estou com você
Estou nos braços da paz.


Muita calma, personas,,,
Terça tem Hermeto na Gávea. Vejam em www.rioprograma.com.br.

O que mais? Ah, comprei um livro interessante chamado Mind Hacks. Ensina várias brincadeiras estranhas que tenta explorar (e explicar) algumas peculiaridades do nosso cérebro. Por exemplo: por que não conseguimos fazer cócegas em nós mesmos? Ah, tsc... Tem mais de cem.

Bienal do livro Sábado.
Sábado à noite tem Neura Jazz nos Antiquário. Puta banda imperdível.
Grupo de dança da UFRJ na Sexta.
Muitas coisas pra este mês. Acho que vou explodir.

quinta-feira, maio 05, 2005

Yet Another "Crise Existencial"

Minhas viagens estão cada vez mais desastrosas. Pudera, se pelo menos me embriagasse com qualquer entorpecente, talvez me enganasse com um pouco de sonhos.

Trôpego, ingênuo.

Mas escolho entender, e quanto mais entendo menos me agrado do que há em volta. Mais prefiro sublimar. Mas ainda não posso. Não sem antes entender mais um pouco. É esse vício que não tem saída: a solidão.

Ou é simplesmente o ritmo imposto pelo que há à minha volta. São as porcarias das engrenagens disfarçadas de microchip. São as distâncias que nos une a qualquer ponto, e surpreendentemente nos isola de todo o mundo.

É a superficialidade de uma Quinta-feira. É o esperar de uma Sexta. É saber que haverá outra Quinta e outra Sexta. E me tranqüilizar com o pensamento de que um dia isso acaba.

Mas não posso me adiantar.

Qualquer céu ou inferno seria o mesmo: a monotonia (ou da mudança, ou da rotina). E, se queimar dói, a dor se tornaria nada, sabendo que o alívia nunca mais pudesse ser sentido. O inferno não é lógico, e tampouco o é o paraíso.

Ora, uma pedra é feliz por ser pedra? Esta pergunta não pode ter "sim" ou "não", se ela nunca deixou de ser pedra, e não teria conhecimento exemplificado do que é não ser pedra. Uma pedra não tem desejos.

Todos somos artistas à medida que os desejos nos fazem querer moldar o mundo. O que não adianta muita coisa, se sabemos que toda a matéria continua no mesmo universo, e que as energias apenas foram transferidas no espaço-tempo. Que também inventamos, por sinal.

Quero transcender meu universo. Não quero morrer, quero apenas cessar de existir, às vezes.

Safe Creative #0801220392643

terça-feira, maio 03, 2005

Hermeto em Montreux, 1979

Em 1979, o "bruxo" brasileiro da música contemporânea, Hermeto Pascoal,
se apresentava no palco de um dos mais consagrados eventos de Jazz do
mundo: o festival de Montreux, na França. A pacata cidade reúne
anualmente vários grandes músicos, e já estrelaram por lá Marvin Gaye,
Miles Davis e John Coltrane.

Em companhia dos integrantes de sua tradicional banda - incluindo o
baixista Itiberê Zwarg e o baterista Márcio Bahia, o velho Hermeto
mostrou que sua música é classificada como universal, apesar de ter
origem verde e amarela. Percorrendo canções clássicas de carreira como
Fátima, Maturi e Pintando o Sete, mostrou-se incansável. Durante a
apresentação tocou muito virtuosamente teclados, sax, flauta e alguns de
seus instrumentos ora improvisados, ora inventados, como uma tampa de
panela, uma chaleira, e um apito.

Muitas vezes estranhas ou incompreensíveis, as execuções foram
magistrais. Em Remelexo, por exemplo, Hermeto acompanhava com sua voz
todo o solo que improvisava no teclado, com um ritmo sustentado por
baixo e bateria. Em contrapartida, ao final da canção fez o teclado
gargalhar com cadências de acordes que imitavam o tom de sua própria voz.

Combinou melodias com harmonias de altíssima tensão, muito modernas, sem
deixar de lado levadas de baião ou samba. Acompanhar suas músicas
significa viajar - em um momento numa trilha tranqüila, como na canção
Bem Vinda, e em outro momento num mar sacudido, como em Quebrando Tudo,
onde os músicos alternam improvisos em um compasso bastante irregular.

Ao final do espetáculo, surpreendeu Montreux com a canção de mesmo nome,
que fora criada especialmente para o festival. O público se deliciou com
a suavidade da obra, que espelhava o ritmo de vida e o verde da cidade.
Para completar, na transição entre seu show e o de Elis Regina, fizeram
um dueto voz e piano considerado histórico para a música, tocando
Brasileirinho e Asa Branca.

Hermeto esteve onipresente no palco de Montreux, em 1979. Mostrando sua
imaginação sem limites e variedade de estilos, fez participações também
nos shows de outros músicos. Nosso bruxo transcende todas as amarras
musicais e respira a arte do som, mostrada no magnífico espetáculo,
reconhecido mundialmente.