quinta-feira, março 31, 2005
terça-feira, março 29, 2005
Harmonia Antitética Paradoxal
Senão um processado
Descontrolado e amontoado
Das coisas que vejo?
Às vezes penso:
Perdi minha infância
Às vezes sinto
Que estou mais próximo
Do meu tempo
Às vezes imagino:
Como será
Quando meu tempo acabar?
Haverá lugar pra ficar?
Estou vivendo o eu desconexo
E muito, muito aquém
Do meu desejo
Estou perdendo minha identidade
Minha identidade semântica
Minha identidade afetiva
Estou sem saber o que inferir
Muito menos o que aferir
A partir de mim mesmo
Mesmo que eu caiba
Em qualquer canto
Mesmo que eu pareça
Ter sido sempre dali
Incomoda a alguém
Incomoda apenas a mim
Estar em qualquer lugar
Mas me acomoda
Saber me descobrir
Entrar em um transe
Uma transação de idéias
Eu - como se costuma dizer
Sou apenas um número
Sou um alguém virtual
Desculpa, saiu :)
segunda-feira, março 28, 2005
Em Breve, algumas imagens de Vitória
Gis Branco
Ao som de Egberto Gismonti - Estudo N.5. Esquentando os tamborins!
O Que Fizemos
Se o ser for para sempre
E o viver for breve
Que seja então uma vida feliz
Que haja algo, mesmo que tão pouco
Que façamos algo, mesmo que tão pouco
Que vejamos, que provemos
Algo, mesmo que tão pouco
Um dia, vou te puxar pela mão
Te mostrar aquela imensa orla
O que fizemos serão os grãos de areia
Acariciados pelas águas - nosso suor
Vão e Verdade
Seria bom se tivéssemos alguma certeza
De que parte do que fazemos não é em vão.
Seria melhor ainda se fôssemos cônscios
De que ao menos parte do que sabemos
É a verdade.
A Fragilidade da Atitude
Atos, quando imprevistos
Nos levam a qualquer lugar
E quando premeditados
São crimes contra a espontaneidade.
Hoje saiu bastante coisa :))
Tou com a digital aqui, e muitas fotos que contam a história de minha estadia em Vitória. Em breve (semana que vem, acho), haverá alguma coisa online. Enquanto isso, dá pra se distrair com as imagens que coloquei randomicamente ao lado. Esse flickr é bem bacana, tou impressionado.
Minha mãe começou um blog ;-)
quinta-feira, março 24, 2005
O Elo Perdido
Essa é minha prima. Gracinha, né? Hahahah!
Layla, te amo! Não fica triste com as coisas ruins que acontecem. Segue a frase do nosso poeta e diplomata, Vinícius de Moraes:
São demais os perigos dessa vida.
Daqui a pouquinho vou me reunir com alguns amigos da facul pra tocar. Enfim, o contrabaixo, depois de 6 anos sem me reunir pra musicar!!
Hoje à noite eu tou viajando pra Vitória. Música, estudantes e moqueca capixaba. Domingo eu tou de volta. :)
Ficam dois inspirados poemas que fiz na sala de aula.
O primeiro deles foi supervisionado pela Ju:
O Projeto
Abstrato é o tipo
Que finge não ser o dado
Que dados existem no mundo
Tais que sejam abstratos?
Concretos são os que herdam
Não de pais, mas de perfeitos
No Modelo Entidade-Relacionamento
Ou na Unificada Linguagem de Modelo
Daí surge o projeto
Com seus poucos requisitos
Tão dinâmicos, tão amorfos
Que feito gremlins se multiplicam.
E o outro é em resposta a Gente Humilde, do Vinícius também:
Olha Só Que Gente Humilde
Na corda bamba é que segue
Essa gente humilde
Que de humilde, muitas vezes
Nem as maledicências que lhe saem da boca
Nem a gana que lhe sai do olhar
Nem as fofocas que gostam de ouvir
Nem o pão, quando há o prazer de roubar.
sábado, março 19, 2005
Teoria do "Amai-vos"
É a teoria do amai-vos.
O que estaria pensando Jesus quando disse "Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei"? Certamente que deveríamos pensar antes de causar algum mal premeditado a alguém. E ainda, que devemos perdoar quando nos causarem algum mal. Mais além, que deveríamos também nos esforçar para que as pessoas ao nosso redor tivessem uma vida melhor. E mais ainda, que devemos nos sentir responsáveis por elas. E por último, que somos na verdade devedores de nossas próprias vidas para o próximo. Seja quem for.
Muito radical, não? Pois bem. Examinemos o mundo contemporâneo. Aquela velha história: crescer, trabalhar, acumular, envelhecer, deixar para a descendência. O que há de errado com isso, afinal? Hora, se estamos falando de dinheiro guardado, teoricamente estamos com um bom curso de ação, não?
É claro que não. Se observarmos a quantidade de tempo que este dinheiro fica parado (décadas), então estamos falando de décadas sem fazer algo de útil com este valor. Nem você, nem outros. Não venha me dizer que "tá rendendo", ou que "o banco empresta pra quem precisa". Já viu banco emprestar pra pobre? Complicado demais, sem garantias de recebimento. O cliente precisa ceder garantias. A Zogby e seus similares sabem cobrar juros mais que exorbitantes, porque daí um pobre ajuda a custear o rombo que o outro abre nas contas.
Sim, este valor parado no banco de quem é rico poderia ser usado para algo melhor. Mas é complicado ser um no meio da multidão. Imagine-se cedendo toda a sua riqueza no meio da favela para os pobres. Se você tivesse R$50.000,00 guardados em um banco, por exemplo, e resolvesse distribuir em uma favela de 5000 habitantes, que por sinal é pequena, então ficam 10 reais pra cada um, e zero pra você. Pois é, ninguém ganhou melhores condições de vida, e você ainda pulveriza o seu capital. Faz dinheiro virar poeira.
O que faríamos, então? Ora, "bota nêgo pa trabalhá"! Com 50.000 você pode abrir uma pequena confecção (um exemplo), ou uma doceria. Se você contratar 10 mulheres a 400 reais/mes, então vai incorrer num custo de mão de obra de 4000 Reais/mês. 10 Doceiras (ou costureiras) atingem aproximadamente 50 pessoas, se tivermos uma média de 5 pessoas por família. Supondo que você tenha um gasto de 3000 Reais com matérias-primas/contas, então seu gasto mensal vai ser de 7000 Reais/mês. Levando em conta que, em geral, mulheres são mais conscientes com dinheiro familiar do que os homens, estaremos aumentando as chances de beneficiarmos crianças. Pra quem mora na favela, 400 Reais é uma fortuna. Isso melhora a qualidade de vida, com certeza. Estabelecidos os canais corretos de distribuição, este negócio é perfeitamente sustentável, e você acaba criando uma pequena indústria na zona pobre. Recuperar o dinheiro gasto é mera questão de tempo, e o negócio estará consolidado, se for bem feito. Você lucra ao mesmo tempo que traz dinheiro pro bolso da favela. Isso é extremamente interessante. Mas você pode querer apenas recuperar seu montante inicial, e depois deixar a pequena indústria na mão de quem souber tocá-la - destas mulheres, por exemplo. No caso de comidas, o lucro é, em geral, bem alto. A grana pode ser recuperada em 1 ano e meio, creio. e um lucro de mais de 200%, pros interessados, acho que dá pra atingir em 3 anos de atividade. Pra 200% de LUCRO em 3 anos, é mais do que 60% ao ano, muito melhor índice do que os bancários, com certeza.
Isso sem falar dos benefícios indiretos: compre ingredientes de vendas locais. Em geral, são mais baratos e ainda estimula o comércio local. Compre comida daquelas moças que vendem pra fora, etc etc. Cria-se um pequeno pólo com a aplicação de 50000 reais em uma favela. É dinheiro multiplicado.
Não distribua esmolas, nem comida. Ensine a pescar, a trabalhar. Bom, esse é um ponto. Não é distribuindo dinheiro que se aumenta a riqueza. É semeando e gerando valor.
Você sabe o que o banco faz com seu dinheiro? Complicado saber, o banco tem contas privadas. Vamos a outra historinha.
Mercado de ações. Sabe pra que serve? Imagina que uma empresa seja dividida em pequenas partes de 10 reais, e cada uma dessas partes possa ser chamada de "ação". Ação vem de "ativo". É um papel (um documento) que diz o seguinte: o portador deste papel é o dono de 10 reais de todo o dinheiro que compõe a empresa. Pra uma empresa de 1000 reais, teríamos 100 ações. É claro, as empresas no mercado da bolsa de valores são muito maiores do que isso. Há milhares de papéis com essas frações das empresas. Quando você tem papéis de alguma empresa, pode resgatar seu lucro, na época em que há a distribuição de lucros e dividendos - dá-lhe Banco Imobiliário!
Essa história do lucro cheira bem. Cheira tão bem que, se eu sei que a empresa vai gerar dividendos, eu posso vender esse papel pra alguém. Mas não vou vender por 10 reais, porque sei que há alguém a fim de comprar essa fonte de grana. É como um manancial, jorrando dinheiro lentamente. Ou pode nem jorrar grana, e continuar sendo atrativo - no caso de reestruturações e alto índice de investimentos internos.
Esse papel diz que eu sou dono de 10 reais lá na companhia (o equivalente ao grampeador da secretária, por exemplo). Mas eu vendo por 15, porque sei que no longo prazo essa grana que "nasce" da empresa vai cobrir esses 5 a mais no bolso de quem comprá-la de mim. Perfeito, não? E assim, quando há notícias boas, o preço da ação sobe. Quando há notícias ruins, o preço da ação desce. E raramente o preço da ação iguala a parte de direito na companhia. O mercado é perfeito nessas ondas de sobe e desce de preço. Mas quando alguém negocia as ações que tem, a empresa emissora da ação não recebe nenhum benefício direto de capital. Não há entrada de dinheiro na empresa. O benefício que se gera pra empresa é uma outra história.
O banco, nosso famigerado banco, lá onde temos nossos hipotéticos 50000 Reais, compra ações quando seu preço tá em baixa, e vende quando o preço tá em alta. Em suma, o jogo é: se o preço tá muito baixo, vai subir, e se o preço tá muito alto, vai cair. Pois bem, essas negociações são feitas com outros financistas, e em geral não há benefícios para o povo. Dinheiro grande, é verdade, mas que não serve de nada. A bolsa é uma grande jogatina.
Não há mais por que manter o dinheiro exclusivamente no caixa. Pronto. Aqui encerro essa coisa de banco.
Eu sei que o negócio tá se estendendo um pouco mais do que deveria - eu juro que meu próximo post vai ser mais curto. Mas vamos a uma próxima questão - essa muito mais importante que a anterior.
Seja um universo de 50 pessoas. Se todas olham somente pro próprio umbigo (é o "universo não-amai-vos"), então em qualquer momento desse universo egoísta podemos dizer que apenas uma pessoa se preocupa com cada uma delas ao mesmo tempo: a própria pessoa, admirando seu lindo umbigo.
Alguns umbigos são tão lindinhos...
Seja um universo de 50 pessoas. Se todas tomam conta do bem estar das outras e deixam de cuidar de si, então teremos em qualquer momento 49 pessoas cuidando de cada uma delas. Esse é o universo do "amai-vos".
E então, em qual destes universos você gostaria de estar?
terça-feira, março 15, 2005
Música Internalizada
Na verdade, nada importa. E se nada importa, tudo importa tanto quanto. Não há argumentos, e eu também não quero que você leia. Eu não leio pra esconder mensagens. Eu leio pra comunicar. E pouco importa a menção das entrelinhas, o que você faz com ela, ou o que você inventa entender. Essa é a sua parte. A minha foi escrever, e saber o que eu entendo. As MINHAS entrelinhas. Sentiu o toque auspicioso do egoísmo? MINHAS. Não tente tomá-las, porque não são de sua propriedade. O que você entender é culpa SUA, e eu não tenho nada a ver com isso. O que você interpretar não foi uma leitura mental. Foi invenção. Se coincidir, parabéns. Mas não invente saber de tudo o que acontece por debaixo destes panos. Debaixo dos meus panos há calor, como este desta noite.
A participação é a única coisa que nos resta. Estamos dentro de um sistema que participa de infinitos super-sistemas, e a única coisa da qual podemos ter certeza é de que há algo. E que estamos inseridos neste algo, que não conhecemos por provas científicas, apenas por intuição. Acho que a intuição está desligada deste haver físico, e ligada em um outro sistema. E se estamos imersos em todos estes, então dane-se seu funcionamento. Não podemos nos desvencilhar. O que fazemos é apenas um amontoado de energia, e às vezes nos traz prazer satisfazer aos nossos caprichos, sejam "honráveis" ou não. Só fazemos por nós mesmos, já dizia o poeta.
Aliás, alguém me dê um exemplo do que é o "não ser", que eu já tenho dúvidas (existenciais e milenares) sobre se "somos".
E nestes dias, a música tem feito parte de mim, como nada mais.
quarta-feira, março 09, 2005
A Letra e a Imagem
Mas o que seriam estes 'novos símbolos'? Curso expresso de leitura dinâmica? Provavelmente não. Temos vários sentidos para captar a informação, no qual a visão é, no caso do texto, a principal delas. E mesmo esta é mal aproveitada. Afinal, o que são as palavras perto de uma imagem? O que é o preto-e-branco de um artigo perto do potencial das tonalidades? O hipertexto, no meio eletrônico, nos deu uma visão organizacional similar à que temos em nossas cabeças. Mas esta reorganização nos rouba a noção quantitativa de tudo o que temos pra ler, por exemplo. Em um hipertexto muito disperso, podemos facilmente nos perder dentro do conteúdo.
Pois bem. O hipertexto expande a organização informacional. Replica no mundo eletrônico das idéias o que temos em nossa mente. E o texto, como matéria prima, é uma mídia muito pobre se comparada às outras mídias. Dado o impacto que tivemos do "hiper-meio" sobre o texto , imagine o que aconteceria se esta hiper-dimensão fosse aplicada também às outras mídias?
Esta é uma boa questão: a substituição do texto (e hipertexto) como forma principal de transmissão de conteúdo por outros meios, que aproveitem toda a amplitude de nossos sentidos. Para se ter uma idéia: uma pequena nova adição à mídia do texto - um texto colorizado, por exemplo, nos traria inúmeras informações adicionais. Ou o texto multi-estilizado. Uma alteração de fonte, tamanho, estilo ou cor poderia nos trazer padrões à mídia lida, e reconheceríamos através dessas informações puramente visuais alguma informação subjacente. Tome como exemplo um suposto dicionário colorido, onde as diferentes classificações morfológicas (verbo, substantivo, artigo) trouxessem cores específicas às palavras definidas.
O principal desafio do texto hoje é sua análise semântica (de sentido) automática. Se houvesse, por exemplo, um meio de analisar eletronicamente os sentidos do texto para diferentes contextos, poderíamos - similarmente aos meios matemáticos de projeções de números - estudar um texto, e produzir um segundo texto, automaticamente. Mentalmente é uma tarefa bem simples, se há a cultura prévia do conhecimento relacionado à produção textual em questão. Mas como produzir uma resenha de um livro de maneira puramente eletrônica e automatizada? Similar ao estudo da estatística, medir o comportamento de um texto requer o estudo de inúmeras variáveis.
Desta perspectiva, começamos a perceber um pouco mais da grandiosidade da complexidade textual. Ela está indiretamente relacionada a todos os nossos sentidos, já que a leitura sempre nos traz a mistura de recordações de vários fatos prévios - fatos que podem ser autitivos, olfativos, visuais, palativos, táteis ou emotivos.
Por que achar então a produção textual contemporânea pobre? O problema em compreender um texto reside no trabalho de realizar a cognição (ligação) entre as idéias deste e a experiência pessoal prévia, durante sua leitura. Elementos diferentes do texto puro - as cores, por exemplo, podem alavancar a compreensão da informação. Novamente: o que interessa, no fundo, não é o texto em si, mas o objeto alvo do texto - o leitor. Sendo assim, não precisamos necessariamente nos prender ao texto, mas à informação e à formação do alvo, não importa por qual meio esteja sendo passada.
Se o texto, que é somente um texto, possui todas estas dificuldades para ser compreendido e estruturado, imagine o vídeo, o áudio e cada uma das outras mídias? Transportar a linguagem e sua análise para cada um destes meios é uma tarefa para este século, certamente. E talvez para o próximo também.
Outro ponto interessante: o texto é uma mídia confiável. O dia em que uma filmagem servir de contrato, saberemos que o vídeo também é confiável. Em 2002, nosso governo criou uma lei na qual documentos eletrônicos podem servir da mesma forma que papel impresso. Mas isso é papo pra micreiro. O mercado pra estas aplicações é emergente - GED (Gerenciamento Eletrônico de Documentos). São basicamente os contratos textuais assinados e posteriormente escaneados, guardados como arquivos de imagem em bancos de dados. Já é um progresso.
Resumo da ópera: quanto mais sentidos atingidos, maior e mais rápida a possibilidade de transmitir a informação. E mais complexa a sua estrutura, porque se aproxima cada vez mais da linguagem da natureza.
De uns 5 ou 6 anos pra cá, desenvolvi muito maior apreço pela música e pela natureza intuitivamente, ao notar inconscientemente a quantidade de experiências que recebia com elas. De fato, hoje minha emotividade é prontamente despertada com artes - talvez justamente por lidar o dia inteiro com o "limitado" texto. Acho que minha percepção está carente de meios mais amigáveis e rápidos de comunicação.