segunda-feira, janeiro 08, 2007

Construindo O Futuro De Nós (A Que Se Resume O Amor)

Naquele dia que vi, eu era apenas um velho. Foi a pior das coisas, e também a mais maravilhosa de se ver. Eu e você éramos amantes, ainda. Amantes de vida inteira. O momento do "ter conhecido" já não passava de uma poeira, perto da mágica de uma vida inteira juntos. A história do primeiro beijo já havia sido contada para mais de mil pessoas.

Você, muito velhinha. Eu, também. Você, tão querida por mim quanto eu por você. Esta prosa revela o que vi de uma manhã pra lá de amanhã, no momento do agora, em que te abracei. Não fala por sons, não fala por mim. Fala por nós, aquela visão.

Naquele amanhã, que não quero esquecer, mas que também não quero viver, éramos nós dois na cama, de cama. Um número incontável de netos e bisnetos de nossos cinco ou quatro filhos nos queriam bem em seus quartos de crianças e de casados (cada um na sua casa, cada um na sua casa). Naquela manhã, já não parecíamos eternos. Pelo contrário, pareceremos quase atingir bem o finalzinho, até. Pareceremos estar a um passo de nos tornarmos lembrança. Tudo o que víamos à frente terá sido deixado para trás. Será nosso momento, nosso último suspiro. E ainda assim, naquela mesma manhã, pareceremos ser capazes de nos amar para sempre.

No agora - me vendo como no amanhã - eu me lembro de você como lhe vejo neste instante: em sua juventude e beleza plenas, ternas, e na minha memória, eternas. Naquele dia eu serei o passado do agora, e também serei muito mais do futuro que nos aguardaria. Naquele dia eu me lembrava disso tudo e das promessas. Também lembrava de como o tempo escorreu feito areia, e de como haveríamos nos tornado tão relapsos com a nossa obrigação de viver.

Não havia tempo. Lá eu sou o futuro, fui o presente e serei o passado. Ou então eu era o futuro, porque serei o presente do passado que sou.

Com os meus olhos já não tão bons eu me recusava a acreditar que a oportunidade que tivemos de viver bem fora jogada no mar, fora deixada evaporar. O que me acabrunhava nessa gelatinosa e instável possibilidade de futuro era a chance de não termos aproveitado nosso passado. O que passou, passou. Mas e o que tínhamos de ter passado? Não deixemos, eu e você, que a vida nos atrapalhe com mazelas distraidoras.

Nesse dia eu ficarei completamente insatisfeito. A Deus, que me deu essa visão, eu agradeço, sinceramente, porque após todos estes anos à frente, além dos quais viajei, posso concluir que o que desejo - e choro por isso - é um futuro contigo, sem arrependimento por não ter vivido juntos o que devemos no hoje.

Tudo a que se resume o amor é vivê-lo de momentos amorosos. O que não é amoroso não pode ser chamado amor. É acrescentado de pequenos gestos, pequenas pitadas, dia após dia, para que seja mais amor amanhã do que ontem. Para que o anteontem não seja mais sequer reconhecido amor, e o futuro seja vislumbrado amor perfeito.



Manu, essa é pra você.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que maravilha!!! Amei!!!
Eu te amo muito!
Beijinhos,
manu