terça-feira, julho 26, 2005

Pesadelo Futuro

Naquela manhã, acordei. Era noite, e eu sabia que não era. O céu de Nova York estava negro, e as nuvens eram como o véu de uma presença inferior. Em minha escrivaninha, um rolo de papiro muito velho. A sensação que tive era de que centenas de anos se passaram desde que aquela folha fora escrita. Abri, e encontrei um poema numa mistura de línguas contemporâneas. Sua tradução era:

"Pesadelo Futuro

Aviões de três asas
Que pousavam sobre o desperdício social
Matavam o povo de fome
Matavam a fome dos porcos
Com a carne do povo

Derramavam sobre a palma do homem
Terrível, o óleo em chamas

Os mortos dançavam
Cuspiam linhas que nos decapitavam
Multidões apavoradas a fugir

Amigos com a face distorcida
Que não se lembravam dos seus
Gente dominada pelo desejo
Gente dominada pelo poder

Amantes que se matavam
E na lembrança amargurada
Restava apenas o ciúme encalcinado

Atravessei imensas geleiras
Que um homem pode destruir com a mão
Ficavam pegadas de compaixão, naquela frieza

Era gente que havia se transformado
Gente entregue à margem
Que foram de bem, e não mais

Vi fantasmas de terno e gravata
Que apavoravam as boas almas
Pais disparando contra seus filhos
Gente querida partindo

Destruímos nossos lares
Com mentiras, desemprego
Propagandas, e enlatados cinematográficos.

Irmãos odiando irmãos
Deus será negado
Vi a confusão nos olhos dos sábios
Perplexo, acordei
E chorei, buscando a chance
De um futuro sustentável."


Três dias depois, o céu continuava negro para meus olhos, em pleno meio-dia. Na cidade, o mesmo ritmo permanecia, como se nada tivesse acontecido.

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sexta-feira, julho 22, 2005

Capítulo e Tanto (Monobloco)

Acabo de chegar do show do Monobloco, no Circo Voador.

Combinei de reencontrar uma amiga que não vejo há uns 6 anos. Tudo muito bem, tudo muito bom, nos ligamos e eu chego ao local, às 23h. Estão nos Arcos da Lapa a própria e mais 4 amigas. Cheguei só, e elas não estavam esperando ninguém. Eu e mais 5 mulheres gatíssimas, muito alegres e saltitantes. Beberam alguma coisa pra calibrar e entramos.

Tudo muito bem, tudo muito bom, a pista estava vazia, e lá vão os 6 pro picadeiro. Tocava um funk pesadíssimo, e lá fui eu dançar com as ladies. 5 aluninhas de direito da UFF. Você me pergunta: "Ué, você dançando funk?!"... E eu até agora me perguntando como eu lembro do estilo que tocava, dado que a distração estava excelente. ;)

Me lembro da frase da minha amiga:
"Elas bebem pouco. Eu tomei 4 tequilas, e pra mim tá tranqüilo, não preciso beber mais nada durante a noite. As outras são mais fracas"....

Onde estaria o tal Monobloco? Devia estar fazendo uma obturação antes de entrar no palco, e pelo visto, era esse o costume:
"...No último show que fui deles, eles só entraram às 3 da manhã...".

Primeiro sinal de que algo ia errado: minha amiga e as amigas de esbarravam e se apoiavam umas nas outras pra dançar. Ok, fingi que não vi o estado alcoólico. 1 hora de 'show' e só dava funk. O picadeiro encheu de palhaços pra participar daquele tribalismo, que infelizmente tenho que celebrar como cultura nacional. Eu, com uma camisa escrita "Atitude Carioca - Bossa Nova", começava a me sentir um alienado diante daquela atitude carioquíssima e contemporânea.

"...Vou levar a Josefina no banheiro, ela não tá bem. Avise às outras meninas."
Revi mentalmente o que poderia ter levado Josefina a se sentir mal. 500ml de caipirinha? Não, não... Ela tomou algumas outras coisas antes de entrar com aquele copo enorme e cheio na mão.

Começaram a subir no palco MC Fulaninho, MC Sei-lá-o-quê, MC Malandrão-de-boné-pra-trás e outros decadentes que sobrevivem dividindo o que ganham com a nostalgia dos funks antigos (menos pior do que os atuais). Devia ter mais gente pra subir no palco do que pagantes do show (show do Monobloco!). O cheiro de maconha aumentou. Os DJs eram risíveis, e não tinham a mínima noção de ritmo. Como podiam ser pagos por aquilo? Naquela altura do campeonato, ninguém mais tinha senso crítico, então até o Genival Lacerda ou o Tiririca podiam subir que não ia fazer diferença.

Cansei. Me afastei um pouco da galera e comecei a me perguntar o que estava fazendo ali, olhando em volta e reparando em tudo o que pudesse. Dançando só pra dizer que dançava, mas com a cabeça longe. Me perguntei: "Cadê o Monobloco"? Tive meu primeiro acesso de gargalhadas sem sentido.

1 hora da manhã as amigas da minha amiga começam a ficar preocupadas. E eu, com sede (já fazendo idéia do que estava acontecendo: elas estavam na enfermaria). Fui com Gurmecinda comprar água e procurar as outras duas. Me deram a bolsa da Josefina, e a partir daí, comecem a contar enquanto a história continua. Fiquei mais 1 hora com a linda bolsa feminina no ombro, andando pra lá e pra cá. Nesse momento, outros dois caras se juntam ao grupo, e é claro, ficaram tomando conta das duas que ainda estavam dançando.

A partir de agora, a história fica trash.

Procura pra lá e pra cá, telefonemas não respondidos e nada da minha amiga Herundina com a Josefina. Guilhermina chegou até nós acompanhada de seu consorte, e eu comecei a me preocupar: o Monobloco...

Guilhermina ligou e Herundina atendeu. Descobriu-se a América: Herundina e Josefina estavam... Na enfermaria. Pensei: "ah, é..."

Essas histórias de bebedeiras são sempre assim: todo mundo tenta explicar pra todo mundo como se deve beber. E aí, brotaram vários phds em alcoolismo de todos os lugares. Do bar até a enfermaria foram uns 10, tentando me ensinar como se "beber direito".

As duas estavam num estado lastimável. Olhei pra minha amiga, que estava sentada e com aquela cara-de-bunda-básica-da-bebedeira-pós-vômito (com o chão sujo aos seus pés como prova), e disse: "Dina, você está linda!" (Dina é diminutivo pra Herundina). A Josefina não respondia. Tava viajando demais das idéias, deitada na maca. Tive meu segundo acesso de gargalhadas sem sentido.

A logística foi excelente. Depois de vomitarem o suficiente pra sujar todo o chão da enfermaria, foram levadas pra fora. Começou o tão aclamado Monobloco (que deve estar rolando até agora, enquanto escrevo). Pronto; agora eu já OUVI o Monobloco. As amigas que não foram até a enfermaria pra vomitar começaram a beijar e dançar forró com seus respectivos ficantes. Um dos ficantes reagiu mal ao convite do segurança para que se retirassem daquela área, que não era nenhum ficadouro, nem tampouco um ficódromo, apesar de ter paredes convidativas e espaçosas. "Agora o Circo Voador tem dois ambientes", pensei. Somado aos dois seguranças, todos aqueles sujeitos que tinham subido no palco nos expulsaram gentilmente da área da enfermaria. Os funkeiros introdutores do Monobloco eram seguranças nas horas vagas, e quase desceram o cacete em todo mundo.

Saindo da *#(%*$*%#$* do show, as minhas duas amigas trêbadas (a que não via há 6 anos era uma delas, só pra recapitular) saíram com a minha ajuda e da Gurmecinda (e aí, leitor? Tá acompanhando os nomes direitinho?). Fiquei com saudade de ouvir Flora Purim, no disco Light as a Feather do Chick Corea. Na saída, acabei me distanciando de Gurmecinda e Josefina. Virando a esquina, estava a Josefina sentada num carro qualquer e... (arregalando os olhos) Gurmecinda de amasso com um sujeito-mal-encarado-com-barba-por-fazer no muro do Circo. Praticamente um novo número, no meio da rua.

Pensamento instantâneo: "get a room"...

Fui apoiar Josefina. Pronto: eu tomando conta de duas trêbadas reclamando de frio, assistindo um casal que se formou naquele instante porque... Porque a Terra é redonda. Tive meu terceiro acesso de gargalhadas sem sentido.

Aguardados 5 minutos (pronto, já não estou com a bolsa feminina no ombro), fomos pro carro de Josefina, que se dizia bem pra dirigir atravessando a Rio-Niterói. Meu quarto acesso de gargalhadas. Agora com sentido. Besteira pouca, ela estava bem mesmo era pra jogar o carro naágua e beber toda a Baía de Guanabara!

Um grupo de uns 6 homenzinhos-de-vinte-e-quatro-anos-que-zoam-todos-na-noite abordou a todos nós, jogando verde pras trêbadas. Nesse ínterim, fiquei sabendo que Raimundo, o sujeito-mal-encarado-com-barba-por-fazer, é ex-namorado de Gurmecinda (ufa!). Pronto. Um dos idiotinhas se declara para Josefina, dizendo que "sério, tava a fim de te conhecer" blablabla...

Josefina começou a cantar uma paródia difamatória pro nosso querido presidente dos Mensalões. Descobri então que era ativista política.

Saca o diálogo:
[Josefina] - Qual é seu partido?
[homenzinho] - PDT.
[Josefina] - Sai daqui. Não beijo homens de direita.
[homenzinho] - Mas eu sou esquerda... Falando sério.
[Josefina] - Então sai daqui. Não beijo idiotas. PDT é direita.
[homenzinho] - Mas não tou falando de beijar... Queria mesmo só te conhecer, conversar contigo... - Ele me comoveu.
[Josefina] - Vem - abaixando o banco do carona - Senta aqui, pra gente beijar.

Um sujeito fino trato, que chegara altamente delicado, de repente entra no carro com uma cara de cachorro de rua esfomeado e beija a vomitada Josefina. Aquele beijo bem dado, que me provocou minha quinta crise de gargalhadas. E a enésima dos outros homenzinhos.

Resumo da ópera: saí ileso do local. Minha amiga foi levada pra sua casa, em Nikity, na companhia de todos aqueles casais formados. Ah, minto. Josefina, depois que beijou o homenzinho-orgulho-do-papai, sumariamente expulsou o coitado do carro. E ainda me inquiriu, perguntando por que eu a tinha deixado fazer aquilo! :s

Tive minha sexta crise de gargalhadas.

Impressionante era ouvir de todas elas assim: "eu nunca tinha feito isso antes"... Será que acredito?

Sóbrio, sobrando etc etc... Mas feliz de ter reencontrado uma amiga minha de muito tempo atrás, de ter conhecido várias pessoas novas, e de ter uma história punk na cabeça pra escrever. Não aumentei uma palavra, essa história acabou de acontecer, eu acabei de chegar em casa, e você deve estar embasbacado com a furada em que me meti. É óbvio que estou usando pseudônimos, com exceção de um dos personagens... Consegue adivinhar qual?

Salvos os cegos, eu fui o único que já presenciou, mas nunca viu o Monobloco.

Safe Creative #0801270401180

sábado, julho 16, 2005

Anjo, Voa

Rasa pelas terras
Que separam nossas vistas
Que apartam os abraços
Da amizade querida

Sorria, que haverá o dia
Em que estaremos juntos
Para nos conhecermos de novo

Venha ao céu do meu peito
Traga-me a mão carinhosa à face
Anjo, voa até meu leito
Traz-me sonhos de condão

Felicita-te após a mágoa da vida, Anjo,
Que hemos de encontrar o imensurável
Um jeito de se levar algo daqui

Que seja amor, que seja paz
Sejam as boas lembranças infinitas
Na imensidão do paraíso

Estrada da memorável existência
Mar da infinita dor que nos amansa
Vida, traga o Anjo até meu Rio
Pois quero adocicar minha imanência
Com o deleite de sua presença harmoniosa



Esse foi de presente pra uma amiga muitcho legal! :)


Safe Creative #0801270401173

sábado, julho 09, 2005

Dungeons & Bares

Hoje sonhei com o Calhau. Pasmem!

Estávamos num subterrâneo, onde haviam vários bares. Um deles parecia muito com o bar da Bunker, na pista principal. Eram cavernas com tetos extremamente altos e muito amplas. Lembro de estarem no sonho a Érika, o Paulo Ivo, o Da Silva e o Kiki. Havia mais gente, mas eu não sei quem são.

A Rika ficava em um extremo do complexo subterrâneo acampada e muito, muito triste. Praticamente se isolou da galera. Calhau voltava (como se tivesse feito uma viagem e não tivesse dado notícias pra ninguém), ainda com cabelos grandes, e nos encontrava num dos vários bares daquele lugar. Estávamos no terceiro nível (!!) para baixo. Quando ele encontrou a galera, foi matar a saudade. Todo mundo surpreso que ele tivesse _finalmente_ voltado.

Daí, fizemos a trilha pelo escuro das cavernas até onde a Érika estava. Ela ficou muito zangada poruqe ele viajou sem avisar nada pra ninguém, e não quis dar nem um beijinho no namorado... Rs...

Depois, voltamos pra um dos bares, e continuaríamos a conversar e a beber. Mas o sonho acabou. De qualquer maneira, foi reconfortante dar um abraço no meu amigo novamente =)

Comédia, né?

E hoje tem niver do "Amago" Potengi! Esse evento vai juntar muita gente legal! :)
Já é, já é :P

segunda-feira, julho 04, 2005

Visitas

Pareço estar distante?

Pois nem tanto assim. Visitei muitos amigos este final de semana. De casa em casa, no Bairro Jabour.

Aprendi a tocar Luíza, do Tom Jobim :D
Registrei um domínio irado. Em breve, novidades.
Comecei a idealizar umas coisas. Estou criando uns programinhas, com significativos avanços. =)

Fica uma frase:
"Nada tenho a perder, pois, neste mundo, nada me pertence."

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