sábado, janeiro 29, 2005

Desvairados

Cheguei ao Tec às 8 da manhã.

Ninguém por lá.

Esperei. 10:30 aparece a primeira alma.

Almocei com amigos de faculdade ao meio-dia, precisamente. Diálogo rápido:
- E ae, cara? Como você tá?
- Ah, tou bem! Sabe, fiz uma coisa que não fazia há um tempinho. Mandei flores, e um cartão com uma poesia. Fiz uma declaração...
- Flores?? - Um terceiro descuidado, que nunca vi na vida.
- Sim, flores... E quem é você?
- Ah, mandar flores é meio caído.
- Hmm. Pois é. Não fiquei com a dita cuja. Mas isso não importa. O que importa é que fui do jeito que eu gosto de ser. Fico feliz de saber que vivo bem, e que faço o que quero, mesmo que não pareça o adequado aos olhos dos outros. Não fiquei "bolado" de ter sido sumariamente chutado, quero mais é ser eu mesmo. Pronto, passou.
(Risos generalizados)
- Vai pra onde, no Carnaval? - Meu amigo, retomando o assunto.
- Visitar um amigo. Abriu um bar numa cidade pequena, e quero tocar algumas músicas com ele. Bossa Nova, como sempre.
- E aquele cara que você me falou? Miles Davis, né?
- Ah, não... O Chet. É música lentinha, só pra curtir. Mas tem uns beebops do cacete também. Tu vai gostar.
O desavisado me olha com cara de estranheza.
- Nossa, olha só essa luminária! Com essa chuva, vou acabar dando uma de Gene Kelly - Me penduro de lado na luminária antiga preta, em frente ao Gávea Trade Center, e enquanto a chuva cai, eu estico o guarda-chuva e começo a cantarolar a trilha sonora clássica do filme.
Gargalhadas, e o desavisado achando que eu acho que vivo há 40 anos atrás, pelo menos.
- Pô, maneiro, maneiro. - Eu, terminando de me divertir.
Almoço. Colheradas, garfadas, cortes no filé.
- Cara, um amigo meu outro dia estava em frente ao computador, gargalhando sozinho. Enquanto jogava Pac Man! Pac Man, cara! Não tem cabimento! - O desavisado, a quem ninguém havia perguntado nada.
- Cara, você tem um grande problema com manifestações de emotividade e expressões espontâneas. Deve ser um recalcado do tipo que não consegue abraçar um amigo porque acha que é viadagem.
O desavisado ficou sem graça.
- Viu? - Eu estava mesmo esperando a deixa, desde que ele me falou mal das flores ;-)

(...)

Às cinco da tarde peguei meus documentos da empresa. Agora posso assinar uma nota fiscal. Prepare-se, mundo! Agora posso vender meu know how!

(...)

Comprei dois cds novos:
.Chet Baker Quintet (excelente)
.Chet Baker com Stan Getz (sem comentários)

Um livro de música:
.Patterns For Jazz - Resolvi começar a comprar livros, é o único jeito de aprender mesmo :P

(...)

Aprimorei um pouco mais da minha nova composição. Essa eu faço pelo prazer, não por alguém. Ainda não tem nome, mas já nasce com uma linda carinha de música que marca.

(...)

Encontrei uma amiga, a Samy. Com o namorado novo dela, que eu tenho certeza de que conheço de algum lugar. Bate papo pra lá e pra cá, lembro que havia descoberto que o mundo de tecnologia é uma politicagem, e que a computação não serve pra nada - As pessoas só precisam de Word e Excel. De vez em quando um Access, e daí pulam pros joguinhos.

(...)

É noite no Shennanigans de Ipanema. Leandro, Bruno, Carlos, James, Daniel e eu. Saiu o sexteto de lá, compramos uma garrafa de Velho Barreiro e uma de Sprite Light (prontamente escolhida por mim) no Zona Sul da General Osório. Passei no posto de conveniência, comprei um pote de sorvete, descobri que não conseguiria colher em lugar nenhum àquela hora, e improvisei uma com a tampa do pote. Leandro canta em portunhol forçado e bêbado a canção Desafinado.

***** disparou um sms avisando que estava na 00 (zero zero) com a ###### e a &&&&&. Resposta: "to no Shena. Beijos! E manda um beijo pra &&&&&&". (oh!)

Seguimos toda a extensão de Ipanema e Leblon pela orla, cantando aos berros e perdendo gente pras suas casas no meio do caminho. Chegamos ao Jobi com uma cadeira de Skol amarela de plástico tomada emprestada de um dos quiosques - que Leandro trouxe equilibrando na cabeça, pra treinar sua "postura" social. Sentados em frente ao Jobi com nossa cadeira, lógico, olhando pras belezas da Guanabara, e conversando sobre o tempo que o tempo tem.

1o Mandamento da noite: Nunca se afastar das pessoas que valem à pena. Isto é, procure-as onde estiver. Trabalho, escola, família, amigos.

2o Mandamento da noite: Troque tempo por mais tempo. Troque informação por tempo. Venda vácuo e seja feliz. É o que esperam de você. Desempenhe um papel impressionantemente sacrificante, e todos te aclamarão, mesmo que no fundo não faça nada.

3o Mandamento da noite: gritar faz bem.

4o Mandamento da noite: Aprenda a olhar onde pisa.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Viver Sem Excitação

Escrevo por ninguém me ouvir
Eternizo, ou tento eternizar
Um punhado de palavras
Que já nem sei qual o valor
De vomitar

Escrevo pelo mero prazer
De fugir um pouco do tédio
Escrevo pra te dizer
Que nada tenho pra rimar

As belas noites
Agora são apenas noites
O verde é apenas verde,
Não é esperança
Nem puro, ou lindo

Meu tempo é esse:
Quero vê-lo passar
No passo que escrevo
De qualquer jeito

Um pouco de eterno,
Mas isso um dia vai passar
Eu passarei, como já me deixou
Passar por entre suas mãos
E agora, sou de ninguém

Me sinto bem, sem ser assim
Não estou preso a nada
Então, tudo vai dar certo
Porque agora, não preciso


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Lábios, lábios, lábios. E você ainda fala por ele. E canta. E que voz, meus parabéns!
Obrigado pelo seu sorriso. Obrigado pelo seu olhar.
É complicado olhar, né? As pessoas têm medo do olhar. Paciência. Quem não olha, não vê.
:-)

Prazer em conhecê-la.

Ouvindo Gotan Project - El Capitalismo Foraneo

quarta-feira, janeiro 26, 2005

A Apresentação

Foi show de bola. Gente de todos os níveis, de vários setores da indústria. Um e-mail amigo acabou de me saltar à frente, me convidando para preparar um material de curso. Bom, as oportunidades realmente surgem, à medida que você faz. Pronto. Será que dá pra preparar um material de J2ME???

Eu já vi esse filme antes.

E de posts em posts, acabei me perdendo, e perdi dois dos quatro contos de "A Poetisa e o Filósofo". Sobraram apenas os que estão Aqui! Uma pena. Acho que os outros dois foram levados pela dona.

Água de Beber
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAhhhh! Pri! Pri! Pri! Pri! Amigona minha tá namorando. Tá felizoooooooooona, e hoje tive a oportunidade de conhecer o felizardo. Bom sujeito! :)
Q boooooooooooom, hein? E no bar, como sempre. Água? Só de beber.

O medo pode matar o seu coração.

terça-feira, janeiro 25, 2005

"That Old Feeling"

I saw you last night and got that old feeling
When you came in sight I got that old feeling
The moment that you danced by I felt a thrill
And when you caught my eye
My heart stood still
Once again I seemed to feel that old yearning
And I knew the spark of love was still burning
There'll be no new romance for me
It's foolish to start
For that old, old feeling is still in my heart

Once again I seemed to feel that old yearning
And I knew the spark of love was still burning
There'll be no new romance for me
It's foolish to start
For that old, old feeling is still in my heart
Still in my heart
Still in my heart

segunda-feira, janeiro 24, 2005

sábado, janeiro 22, 2005

A Noite

Hoje à noite conheci pessoas muito interessantes, e reencontrei outras. Acredita que um deles até leu meu post anterior? Poutz, foi um achado. O cara teceu comentários a respeito, e depois ainda ouvimos um pouco das músicas esquisitas que eu tenho por aqui. Incrível, ter a chance de mostrar um pouco das bizarrices que eu ouço e penso, tendo alguém com disposição de argumentar.
Por uma sórdida ironia, eu não tava com muito saco pra esse tipo de papo! :-O
A festa foi irada. Obrigado por ter me levado, cara mia! :)

Pessoas fazem mesmo coisas absolutamente inusitadas. Eu acreditava não ficar mais surpreso com as atitudes. Agora vou acreditar que não acredito em mais nada.

Como Dizia O Poeta
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão.

Este é meu modo de viver. E vivo muito bem com isso. Me faço e desfaço, erro e saio de baixo dos escombros, com marcas de lágrimas, mas sorrindo. Uma vez me perguntaram qual havia sido a avaliação do meu ano passado, numa escala de 0 a 5.
Desde 2000, todos os meus anos posteriores têm tido avaliação 5, sem dúvida.

Graças a Deus. Foi só escolher que fosse assim. Tão simples quanto isso.

www.walkmode.com é o endereço da mais nova empresa de mobile do mundo. Aguardem, e confiram.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

My Ideal

Will I ever find
The girl in my mind,
The one who is my ideal?
Maybe she's a dream
And yet she might be
Just around the corner waiting for me.
Will I recognize
A light in her eyes
That no other eyes reveal,
Or will I pass her by
And never even know that
She was my ideal?

- Maurice Chevalier


Noite no Circo Voador. Depois de Ira, Nando Reis e Engenheiros do Beto Gessinger (acho que eh assim que se escreve Havaí), nada melhor do que um Coooooooooooool jazz cantado pelo Chet. Caramba, eu na adolescência me condenaria por ouvir essas coisas. Hoje, não condeno ninguém, porque me traí em todos os sentidos. E percepções. E também não juro mais, e nem prometo mais, e entendo por que sou um fã de Heráclito. É, eu sou um rio que corre. E as águas nunca estão do mesmo jeito, nem meu coração, nem qualquer outra coisa.

Tá, Raul! Uma metamorfose ambulante!

Afinal, eu sou um clichê. E todos vocês são clichês. E dos clichês é feita a vida.

Pensamentos Outros Que Me Tomam
O preço da gasolina aumenta. Todos os empresários têm um lucro menor. Eles aumentam seus preços, a fim de repassar o aumento para os consumidores. Os consumidores são empregados dos empresários. Os consumidores não têm qualquer direito sobre a propriedade do seu trabalho, sendo eles mesmos propriedades do empregador. Os consumidores, que são empregados, não recebem aumento. A indústria de petróleo fica mais competitiva - os preços sobem pela escassez provocada pela guerra. Os empresários mantém seus lucros. E quem paga pelo aumento do petróleo? Os consumidores, como já havia dito anteriormente. Quem paga pela guerra? Os consumidores, isso é uma conclusão lógica. Então, os empresários continuam recolhendo a mesma fatia da grana de seus consumidores, que não têm seus salários aumentados. Os empresários aproveitam a deixa pra aumentarem sua margem de lucro.

Maria continua ganhando seus 300 reais, com direitos da época de Getúlio Vargas. Mesmo que de lá pra cá tenham inventado o computador. Antes, pagava 70 de petróleo todo mês. Agora, paga 100, porque vai ao super-mercado e descobre que todos os produtos sofreram reajuste. Os 30 reais se foram... Vush... (esse "vush" foi pro cabelo!)

Bom, assim a grana do petróleo vai financiar insegurança e instabilidade nacional e mundial. Velha máxima: os ricos ficam mais ricos. Os pobres, mais pobres. Em breve os ricos descobrem que as vendas de seus produtos baixaram. Problema do mercado? Claro que sim. Os pobres têm menos dinheiro, que já tá todo na conta dos ricos.

"Exportar ou Morrer!"

Alguém ouviu Fernandinho Henrique Maldoso dizendo isso? Foi um lema ao qual eu aderi na época! Estupidez, claro. Querem exportar, porque nos EUA tem dinheiro. Na Europa tem dinheiro. Aumentam a massa de assalariados sem poder de compra, o país cria mais empregos escravos. Os ricos ficam ainda mais ricos e os pobres... Bum xi bum xi bum bum bum (à la Daúde). O emprego é eliminado, a fome continua. O país cresce. Para alguns, apenas.

Cresce?
Bom, vamos ver... Os Ricos querem uma conta polpuda. Querem fazer reservas. Eles reinvestem muito pouco do seu total de lucro pra aumentar a produção. Eles expatriam todo o lucro pra bancos mais interessantes. Bancos que vão fazer investimentos em outros bancos. Compram dinheiro com dinheiro. E dinheiro, vc sabe... É tudo só número, brincadeira de fazer continha... Não enche a barriga de ninguém.

E os ricos reclamam que à sua volta só existem favelas, e que elas só fazem é crescer. Bom, se os milhões estivessem investidos em força de trabalho produtiva, e se eles tivessem um pouco menos de reserva com garantias de que o mercado interno teria condições de consumir seus produtos, então estaríamos cercados de uma classe média baixa, e não de pobres. No mínimo.

Temos que aumentar o poder de compra dos nossos conterrâneos.

Por onde começar?
Empregue um empregado e dê a ele o salário que merece. Compartilhe seus lucros. E não expatrie o dinheiro. Reinvista. Se vc reinvestir, sempre haverá aumento na produção, que aumentará a roda de trabalhadores com poder de compra. Você não reclama que o povo não lê?

Dê a eles a oportunidade de comprar um livro
E não se esqueça de que o trabalhador tem que ter TEMPO pra consumir
Então, por uma vida melhor, vamos reduzir opcionalmente a jornada de trabalho pra 6 horas.
Tá bom, isso é forçar demais.

Cheidi idéi u cara, aê!


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terça-feira, janeiro 18, 2005

Três Coisas

Suadouro. Todos os edredons estão em promoção.
Caraca, nem se chove fica fresco!

Ao som de That Old Feeling - Chet Baker

Vcs conhecem a música 'Round Midnight?
Pros que não conhecem, eu digo: é tão essencial conhecê-la quanto Garota de Ipanema. Mega música, de fato.

Bah, fica o dito pelo não dito. Então vou dizer: segunda feira dou uma palestra técnica pra uma galera. :)
Me disseram que eu posso falar de um assunto ae, de nerd... Não tou lá com essa corda, mas topei. O chato é preparar os slides. :-/ Tagarelar é até fácil. Especialmente pra quem quer ouvir. Pra quem não quer, sooo sorry.

"Isto aqui é um festival de Jazz?" - Caraca, fissurei no Hermeto! Sei que tá ficando chato, mas só pra quem lê. :P
E eu que queria que todos me ouvissem... Tolice, tolice.

Saudades de recitar uma boa poesia ;)

Segue:

Três Coisas
(Mário Lago)

Três coisas pra mim no mundo
Valem bem mais do que o resto
Pra defender qualquer delas
Eu mostro o quanto presto

É o gesto, é o grito, é o passo
É o grito, é o passo, é o gesto

O gesto é a voz do proibido
Escrita sem deixar traço
Chama, ordena, empurra, assusta
Vai longe com pouco espaço

É o passo, é o gesto, é o grito
É o gesto, é o grito, é o passo

O passo começa o vôo
Que vai do chão pro infinito
Pra mim, no que é uma estrada aberta,
Quem prende o passo é maldito

É o grito, é o passo, é o gesto
É o passo, é o gesto, é o grito

O grito explode o protesto:
" - se a boca já não dá espaço
que guarde o que há prá ser dito"

É o grito, é o passo, é o gesto
É o gesto, é o grito, é o passo
É o passo, é o gesto, é o grito

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Agora, Já Era

Importantíssimo acontecimento para Segunda que vem. Vamo ver no que dá. Espero ter boas novidades. E que durante a semana tenha mais novidades também, né?? Por que não?? ;)

Como diria Hermeto, no Live in Montreaux que eu tou ouvindo pela primeira vez aqui agora:

"Remelexo, remelexo, remelexo sim sinhô!"

Lembrando sempre que o Leozinho também é adepto ao "Remelexo". Gargalhei aos baldes!

Novos CDs

Boa fase... Ou não? :P
O início do ano está em paz, apesar de eu ter passado um final de semana meio sem fome, meio ansioso. Sabe quando você acha que nunca mais vai sentir ansiedade na vida? Droga, errei de novo! Diferente do que disse Salomão, sempre há muita novidade sob o Sol. Mas nada que me tire a felicidade.

O post anterior é um início de conto, para o PI. Pra quem quiser ler, é uma passagem pseudo-científica que eu sintetizei das minhas experiências pessoais cotidianas. Mas que também foi meio sob encomenda. Opiniões, plz!

Cabelo, faça bom proveito e invente algo muito melhor do que o que escrevi!

Final de semana regado a Jazz. Cdzinho do Chet Baker, um outro do Fagner (!!!) produzido pelo Hermetão - um tal Orós, bem psicodélico. E também um outro do Belchior, com algumas das principais, produzido e executado instrumentalmente por Duofel. Eu queria conhecer alguma coisa de Belchior. Pronto, dá pra brincar com o que os caras fizeram no violão.

Água de Beber, Samba da Rosa, Samba de Orly. Agora, tirando Desafinado. Hehehehe, esse eu vou cantar sem medo!

Sexta foi festinha da primona Layla. Gostei pacas, revi muita gente :))
Caraca, as figuras da noite certamente foram Vânia, Angélica, Andressa e Casquinha. Sem contar com a atração principal - Layla :P

O Mantra Das Aparições

Tocava um jazz em sua cabeça. Bernard sabia que isso o ajudaria a manter a concentração. Chet Baker. "Queria ter vivido na época desse cara", pensou. A melodia de seu trompete era tão suave e cool quanto sua voz, que parecia querer mimetizar o instrumento. Sua chegada na superfície de Berta foi um rasante silencioso, em seu corpo translúcido. O plasma-traje o mantinha a salvo das condições adversas da superfície deste planeta quente, e sentia frio, devido à reação da anti-matéria com o nitrogênio.

"Quando será que vão inventar trajes mais amigáveis?"

O homem sempre reclamou, em sua jornada pelo progresso. Sempre esteve infeliz. Bernard era uma Aparição. A elite das forças armadas de seu governo. Seu traje conferia à sua matéria aparência semelhante à de um fantasma. Podia se manter invisível e incorpóreo por muito tempo, o que possibilitava a reentrada na atmosfera. A massa, livre de interferência física, era imperceptível para radares. O volume do corpo, irrisório para que pudesse ser considerado um invasor. Bern, como era chamado por companheiros de equipe, vestia um exoesqueleto com retrofoguetes e compensadores gravitacionais, que aumentavam ou diminuíam proporcionalmente a força de seus movimentos, para que parecesse estar sempre sob aceleração gravitacional padrão, a mesma do antigo planeta-mãe, uma vez chamado Terra, mas que depois da revolução planetária, teve seu nome original reconhecido: Gaia. Quando quisesse, poderia aumentar ou diminuir a força de seus movimentos, para casos de emergência. Além disso, o computador de bordo projetava imagens diretamente em sua retina, sobrepondo transucidamente o ambiente à sua volta. Era como ter um display à sua vista, o tempo todo. Dados climáticos, de carga do traje, fisiológicos, radioativos e psíquicos sob seu controle. Podia associar alertas e ações automáticas, de acordo com os eventos desejados. Receber injeções, ter sono induzido ou adrenalina administrada, relaxamento por meio de choques de baixa potência, alimentar-se, ouvir Miles Davis ou ver seu álbum de fotos familiar. Podia ser imerso em um sonho virtual, completamente livre de seu traje e com acesso a petabytes de informação, que lhe renderia praticamente qualquer tipo de sensação desejada. Podia virtualmente ir à uma praia da América do Sul, se quisesse. Podia beber cerveja. Podia ter mulheres. A comunicação de seu traje era realizada através de vibrações em níveis de dimensões-corda. Era instantânea, mesmo que estivesse a anos-luzes de seu planeta natal. Podia simplesmente telefonar para sua filha, Alexa, e saber como iam as coisas. Podia vê-la, e ter seu rosto perfeitamente projetado em vídeo com os sensores internos do capacete, como se estivesse sendo filmado por uma câmera. Podia até escolher o raio do ângulo sob o qual quisesse ser projetado. O que é isso! Podia ainda assim encontrar-se com ela, em um ambiente virtual. E tudo isso às custas do governo. Mas podia também bloquear qualquer tipo de comunicação, caso estivesse de saco cheio de tudo. Podia também atender aos chamados onde quer que estivesse: sonho, sono, vigília, acordado, em combate.

Ah, e as armas. Além da força extra, os próprios retro-foguetes também se transformavam em lança-chamas. Neo Napalm, para que pudesse queimar mesmo no vácuo. Era uma espécie de espuma cauterizante. A armatura possuía modos de movimento: Ar, Terra, Água, Fogo, Vácuo. Cada um com seus modos de batalha. Tinha os bons e velhos projéteis. As metralhadoras, que utilizavam a direção do seu olhar e a confirmação de seus impulsos neurais como mira e gatilho. Podia estar certo de que a precisão era quase perfeita. Inclusive com corretores de alvo, caso ele próprio ou o alvo estivessem em movimento. Para exércitos dessas armaduras, o funcionamento era um primor, já que todo o grupo compartilhava dados espaciais e dimensionais sobre os corpos no ambiente. Nunca se ouviu falar de um exército de mais de dez Aparições. E nunca se ouviu falar em exércitos de Aparições que perdessem batalhas. E nenhum deles jamais precisou apelar para suas bombas, que eram automaticamente ativadas caso o soldado fosse irreversivelmente morto. Sim, era possível trazê-los de volta. Afinal, tínhamos emplastros, morfina e desfibriladores, não tínhamos?

O Vácuo, tão presente e óbvio, havia sido descoberto como um importante elemento a apenas 100 anos. E um impressionante salto tecnológico era esperado, com tantas coisas que se podia fazer com o Vácuo. Como quando descobriram a Luz. Fibra ótica, chips óticos e tantas outras otiquices. Estas foram as velharias com as quais seus bisavós ficaram maravilhados, numa época em muito obsoleta.

Terra, Fogo, Ar, Água, Luz, Gravidade, Psiquê, Vácuo. O que mais viria?

"Quando será que vão inventar trajes mais amigáveis?" - Perguntava-se Bern.

Pensava em sua filha quando sobrevoava a rochosa superfície de Berta. Ela adorava as tomadas de sobrevôos que o pai enviava, via correio. E disparou mais uma dessas filmagens, enquanto pousava.

"Quando será que vão inventar trajes mais amigáveis?" - Perguntava-se Bern, ainda.

À medida que descia, enxergava a quilômetros de distância uma espécie de aranha metálica gigantesca, com suas dezenas de patas fincadas nas rochas quentes, e seu ventre debruçado sobre o chão escaldante de Berta. Lá era seu objetivo. Ao se aproximar do chão, o Receptáculo, como eram chamados os exoesqueletos, materializou-se, e Bern pisou em terra firme, finalmente. Materializar-se ou desmaterializar-se sempre causava uma espécie de tonteira momentânea, e Bern sempre voltava à fatídica pergunta: "Quando será que vão inventar trajes mais amigáveis?".

Com os sistemas de feedback negativo, a armadura se ajustava instantaneamente às condições ambientais, e Bernard simplesmente começou a caminhar na direção da Almand-Ginger. Ao ritmo de John Coltrane, Countdown.

"Os ânimos vão esquentar."

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segunda-feira, janeiro 10, 2005

Receita de Infância

Misture num copo
Duas colheres de sopa de leite em pó
E uma colher de sobremesa de açúcar.
Infância: aproveite enquanto dura.


*Junte um pouquinho d'água, se quiser variar.

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sexta-feira, janeiro 07, 2005

Rapidinha

Estamos com uma vaga pra trabalho com Java no Tecgraf. Se alguém souber de alguém, me manda um email:
rodrigo.santiago@pop.com.br

Nada de Importante

Isso aqui saiu enquanto eu ouvia as coisas maluquetes do albino mais foda que a música já teve:

Ele correu os olhos pela água e viu a luz do céu de verão. Sete horas da noite, e o céu ainda resplandecia, no reflexo da praia pouco agitada. Imaginou que pudesse mergulhar em um praia de pura luz. Em sua fantasia, o Sol estava líquido e era um astro de boas intenções. Ninguém sairia ferido, por mais que em sua ilusão o Sol estivesse ali, em baixo d'água. Era isso. Ele faria o caminho de volta ao mar todas as noites. A Terra era mesmo plana, como Galileu nunca pôde conceber. Era a grande bandeja que navegava o vácuo, como um disco que voou à sua frente, quebrando sua concentração, seu desligamento das coisas irrelevantes. Da vida.
Queria se desligar da vida, de alguma forma. Pensava em como o mundo era pequeno. Pensou em sua garota, em onde estaria nesse momento. Precisava dizer a ela o que descobriu.


O nome do meu filho será Hermeto. E ai de quem disser que não.
:-P
Ouvindo Hermeto Pascoal - Slaves Mass Album - Cherry Jam


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quarta-feira, janeiro 05, 2005

Biografia da Vida d'um Momento

Caí. Caí como que num sonho. Percebi a Lua passando ao lado, mas pequenina, como se ainda estivesse longe. Senti-me atordoado durante a queda, e não sabia pra onde ia. Queria apenas dormir e esquecer o teatro apregoado em minha mente. Queria apenas esquecer quem eu era, por uns instantes. Um trote. Foi isso, ilusão de ótica, apenas um ponto de vista. Mas se a pego, então estaria perdido, com a Lua em minha mão.
Perdido. Mesmo que fosse o que queria. Mas não, não era bom. Sinto meu estômago neste momento fazendo revoluções do que comi à tarde. E Não me sinto muito bem, psicologicamente falando. Mesmo que passe mal (fisicamente), não haverá um alguém sequer. Parei. Morri.

Sinto a chuva como se caísse em cima de mim. São as memórias, os flashbacks. E na verdade, apenas o som das gotas é o que me provoca. Enquanto à queda... Bom, a queda continua, e torço pra que seja na verdade um grande vôo. E já que tudo é referencial: não estou caindo. Estou voando.

What else? Será que posso usar meus entorpecentes, só um pouquinho?
Ouvindo somente a chuva, o cooler do computador e os automóiveis lá em baixo.

E não é para menos. Meu baú tá cheio de juízo. Acho que vou doar um pouco dele. Vou tentar conversar com a parede, ou com o ar. Quem sabe se não me respondem? Primeira cena de esquizofrenia do ano.

Ah, foi esquisito: parecia um filme, quando o detetive liga os fatos para descobrir que ele próprio é vítima da omissão de seu companheiro... E as evidências estavam ali o tempo todo, como de praxe. Muito claras, e não quero vê-las novamente, porque vai me ofuscar. Dane-se. Vou ganhar o mundo um dia. Meu mundo será: todo o tempo que eu quiser. Todas as evidências me olhavam com cara de obviedade. Pessoas, eu descobri a América. Ooooooooooooohhhh!

Esse tal Bertrand Russel é mesmo muito bom nos seus argumentos. As pessoas realmente precisam de mais tempo, e precisam também serem menos omissas. Tempo para comunicar, para se fazerem entender. Tempo de saberem que têm tempo para compartilhar também. E aqui, precisamos de um tempo melhor pra ir à praia. Chuva é só moléstia. Na moleira então, à beira da água salgada, nem te conto.

Após apagar o que seria este parágrafo, me questiono sobre o que de mais incompreensível deve aparecer por aqui... Não, não vou dizer a vocês o que estava escrito nestas linhas antes. A Lua já sumiu, atrás das cumulus nimbus.

Ócio.

Tenho coisas importantes pra resolver, mas vou me permitir ignorá-las momentaneamente. Deixa eu fazer nada, agora. Preciso de um pouco de letargia. Acho que uns 40 anos, somente.

Ou senão preciso crescer. E quem chegou até aqui merece um prêmio pela falta do que fazer. Parabéns por me acompanhar, não esperava tanto de você ;)

Crescer. Pra quê?

Vou viver com as concepções trágicas que todas as outras pessoas do mundo inventam, e que acabo aderindo. Porque as convenções nunca são coisas nossas. São coisas de uma tal "sociedade" que vi na tevê.

Perguntinha: Você já viu personagem de novela assistindo tevê? Acho que já tinha aprendido isso com o BR, porque era exatamente o mesmo pensamento. O cara é maneiríssimo, queria tê-lo conhecido pessoalmente. Assim como o Hermeto, que também não conheci, e o Manuell, que também não conheci. De Sócrates, nem se fala.

Pronto, a maré do meu estômago já se acalmou. A previsão é de tempo ruim pelos próximos meses. Esse negóicio de onda gigante tá tão na moda... E olha que tem tanta desgraça que dá mais pena. Imagina só um país como o Haiti, que é uma guerrilha no meio da miséria e do lixo? Ou ainda as Etiópias da vida, com seu povo sem ter o que comer. E soldados estrangeiros, bem gordinhos pra vigiá-los. Bünchen ficaria com inveja dos relógios de pulso usados como cintos. Imagina só mostrar a hora no umbigo? É mesmo pra quem pode. Se fosse comigo, eu já teria (realmente) morrido de fome e desnutrição.

Esta foi a biografia de uma fatia de minha vida. De aproximadamente 20 minutinhos.

Terra do Nunca, 05/01/2005,
-- Peter Pan

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segunda-feira, janeiro 03, 2005

Playing The Musician

Comprei um violão!

Yamaha C70. Parece até marca de celular :p
Junto dele vieram dois songbooks: Tom Jobim e Vinícius. E eu nem gosto, neh? Tou todo bobo, o instrumento é do kct. É como andar de bicicleta, mesmo :)
Imagina que eu quase esqueci minhas musiquinhas! Daí, fiquei frustrado e resolvi comprar uma viola. É isso, gostei pacas, foi um investimento na minha pura e simples diversão.

Agora nascerá praticamente um novo Yamandu, heheheheh :P
Yamaha, Yamandu... Parece até proposital. Eu, hein?!